Desde priscas eras, o homem tem se questionado, com entusiasmo infantil, diante da grandeza da Criação, através de astrônomos, que sabiamente observaram, com atenção, o caminhar incessante das estrelas, pelo céu, se nós estamos realmente sozinhos na vastidão do fascinante mundo interestelar.
Quando, em 2022, o Telescópio Espacial James Webb (JWST), projetado pela NASA, iniciou suas operações científicas, uma infinidade de imagens espetaculares do cosmos foi captada, por ele, e enviadas com regularidade a Terra, onde cientistas, de diversas nacionalidades, se debruçam, incansáveis, para tentar desvendar os seus segredos, radiantes de contentamento ao observarem tamanha beleza e riqueza em detalhes jamais vistas anteriormente.
Nessa data, no dia 11 de julho, a NASA revelou ao mundo a imagem mais detalhada já feita do Universo, que aponta para uma região com aglomerados de galáxias massivas conhecida como SMACS 0723, cuja foto de campo profundo, como é chamada, chama a atenção pela idade das galáxias vistas ali. Algumas delas estão a mais de 13 bilhões de anos-luz de distância, apontando, muito provavelmente, segundo especialistas, para os primórdios do Universo.
E pensar que Giordano Bruno, filósofo, matemático, teólogo e religioso italiano, que defendia a teoria heliocêntrica, afirmando, com convicção, a existência de outros mundos, foi implacavelmente perseguido e morto, na fogueira, pela Santa Inquisição, causa espanto àqueles que se contrapõem às injustiças.
As ideias de Giordano Bruno, corroboradas com as de Nicolau Copérnico, foram enfeixadas em um livro intitulado: De l’infinito universo e mondi.
Em 1591, ele foi viver em Frankfurt, onde compôs poemas e mergulhou nos estudos da mnemônica. A convite do nobre Giovanni Mocenigo, que dele ouvira muito falar, foi até Veneza para demonstrar esta nova técnica de memorização. Impressionado com a desenvoltura de Giordano Bruno, Mocenigo, acreditando que aquilo era magia, denunciou-o à Santa Inquisição. Assim, ele foi preso e julgado inicialmente em Veneza. Todavia, não se sabe ao certo o porquê, o seu caso transferiu-se para Roma, onde se submeteu a novo julgamento, cuja sentença final somente aconteceria sete anos depois.
A Inquisição exigiu a retratação integral de suas teorias. Giordano Bruno defendia que o Universo era infinito e estava inacabado. Ao ser questionado, pelos inquisidores, ele disse-lhes que suas ideias eram de cunho filosófico, não se reportando à religião. Este seu argumento evidentemente não foi aceito.
Em 1599, a Igreja Católica exige a retratação de Bruno que, se o fizesse, estaria livre da pena de morte. Mas, como ele não aceitou negar as suas ideias, pela sentença proferida pelo Papa Clemente VIII seria queimado vivo.
Antes da sua execução sumária, diversos clérigos tentaram, em vão, por alguns dias, demovê-lo de suas ideias, o que ele evidentemente não aceitou.
Giordano Bruno foi morto em 17 de fevereiro em 1600, em Roma.
Por acreditar na pluralidade dos mundos, numa época em que os estudos indicavam o universo como uma esfera em torno do sol, ele afirmava que cada uma das estrelas teria um planeta que giraria em torno dela. Assim, a Terra não estaria sozinha no universo. Por fim, ele rejeita, com rara altivez, a ideia até então vigente de que o universo seria algo estático e hierarquizado.
Eis algumas pérolas de seu pensamento:
"O mundo é infinito porque Deus é infinito. Como acreditar que Deus, ser infinito, possa ter se limitado a si mesmo criando um mundo fechado e limitado?"
"Não é fora de nós que devemos procurar a divindade, pois que ela está do nosso lado, ou melhor, em nosso foro interior, mais intimamente em nós do que estamos em nós mesmos."
"Se eu manejasse um arado, pastoreasse um rebanho, cultivasse uma horta, remendasse uma veste, ninguém me daria atenção, poucos me observariam, raras pessoas me censurariam e eu poderia facilmente agradar a todos. Mas, por ser eu delineador do campo da natureza, por estar preocupado com o alimento da alma, interessado pela cultura do espírito e dedicado à atividade do intelecto, eis que os visados me ameaçam, os observados me assaltam, os atingidos me mordem, os desmascarados me devoram. E não é só um, não são poucos, são muitos, são quase todos."
No Campo de Fiori, onde ocorreu a execução da pena, foi erguido, em 1889, um belíssimo monumento em homenagem a Giordano Bruno, cinzelado pelas mãos hábeis do escultor Ettore Ferrari, imortalizando-o para a posteridade.
Na atualidade, que ironia perversa do destino, as ideias de Giordano Bruno, que vão bem além da escuridão, nas asas do super-telescópio espacial James Webb, são reafirmadas, enfim, categoricamente, por renomados cientistas.
E o Oleiro Divino, através da Ciência, mostra, bondoso, a cada um de nós, com clareza, a perfeição de sua Obra magistral no esplendor de tantas galáxias.
*Professor e Escritor Camocinense