terça-feira, 31 de agosto de 2010

DO TEMPO DO FOGUETE

Uma cidade do interior passa a ser mais evoluída quando deixa de comentar barulho de foguete. Acredite, Camocim está longe de evoluir. Em época de campanha política, todo foguete é encarado como alguma novidade, seja de um lado partidário ou de outro. A mais famosa versão para o papocado de foguete é a possível troca de partido por parte de uma família ou de uma pessoa importante da cidade. No caso, importante pode ser lido como "rico". Fica mais claro assim. Esse foguete é chamada 'virada". Quando ele "come de esmola", geralmente no centro da cidade, começa então os "cochichos":
-"Quem foi que virou mermã?" -"Mulher, tu acredita que a fulaninha virou só porque o beltrano não pagou a ligação dela?" - "Eita negada, agora o cicrano se lasca. Virou foi até os cachorro na casa da dona menina acolá" - "E fulanim que cuspiu no prato que comeu. Mas destá, dor de barriga não dá só uma vez não. Né não?"
Outro dia um camarada me ligou às 05:00h da manhã de segunda-feira (pense numa escolha errada), depois de uma queima de fogos, já perguntando e afirmando: -"Tadeu, foi o fulanim que virou num foi?". Eu ainda estava com zonzo de sono, mas deu tempo de lembrar do motivo do foguetório e respondi "bem tranquilo": -"Homi, isso é a alvorada dos festejos de São Pedro. Deixa de ser herege infeliz. Vai te benzer".
Agora pense num aperreio do cão desse povo depois que a Compra Premiada Multibens resolveu sortear seus prêmios mensais logo depois de uma bateria de foguetes. Aí o povo endoidou de vez. Uns não sabiam o que diabo era aquilo mais, já que era todo mês e fora da época eleitoral, ou seja, quem estivesse recebendo essas "viradas" podia se candidatar até a presidência da república que ganhava. De uma forma ou de outra, foguete em interior ainda causa diversas interpretações. Por um lado isso mostra os costumes locais, a forma displicente de levar a vida. Por outro, isso atesta que a cidade ainda está distante de um ritmo de vida em que um foguete é apenas.....um foguete.
Postado por Tadeu Nogueira às 11:02h