sexta-feira, 21 de junho de 2013

UM CORÓ NO AQUÁRIO

Grandes empresas, universidade pública, aeroporto com voos regulares, esporte, atendimento médico especializado, turismo ativo, educação de qualidade, cultura fluindo, inclusão digital com internet para todos, e tantos outros benefícios, considerados básicos em algumas cidades de menor ou semelhante tamanho, simplesmente inexistem ou funcionam de forma precária em Camocim. A palavra "difícil" é companheira constante de 10 entre 10 conversas entre populares, quando citadas as reais necessidades do município. 
E dou como exemplo esse diálogo: "- Rapaz, aqui era pra ter uma grande universidade, que pudesse absorver os filhos da terra, e de cidades vizinhas. Isso fomentaria investimentos, pois teríamos a vantagem de produzir, sem sair de casa, uma demanda grande de mão de obra especializada". 
Quando isso parece ser mesmo a solução, e nutre de sonhos os que levantaram o assunto, sempre tem um que fala: "- É difícil. Camocim nunca terá isso. Perdi a fé". 
Isso ocorre em rodas de amigos, esclarecidos, é claro, que utopicamente atentam para as prioridades de um povo que conhece de perto a inércia, lentidão, omissão, de governantes, em todas as esferas, que de alguma forma "sugam" há décadas os votos de camocinenses para que possam permanecer no poder, sob as benesses que o mesmo propicia. 
Certa vez um estrangeiro amigo meu disse que, ao visitar pela primeira vez Camocim há 20 anos atrás, se apaixonou de imediato pela cidade, e disse: "- Essa terra daqui a 20 anos, será referência no estado, pelo potencial natural que possui, pela sua localização estratégica dentro do que exige a indústria do turismo, principalmente". 
Após 20 anos, ele afirma, triste, que parece nunca ter saído do momento exato em que falou  isso. Relatou até que o lugar em que ele fez essa profecia, que não se concretizou, ironicamente, continua o mesmo. Quando falava essa história, notei no seu olhar um certo desânimo, e perguntei: "- Você seria capaz de reafirmar sua convicção?" E ele respondeu, sem pestanejar: "- Não, Tadeu. Infelizmente, não". E completou: "- Em 20 anos, não vi pessoas trabalhando em prol de uma população. Vi pessoas trabalhando, e muitas nem isso, em prol de grupos isolados, em prol deles mesmos. Ninguém, durante esse tempo todo, vislumbrou a possibilidade do todo, mas sim, de alguns. Camocim consegue perder pra si mesmo", finalizou.  
Essa lentidão que insiste em fazer parte do cotidiano administrativo da cidade de Camocim, continua ocorrendo, gestão após gestão, como se fosse algo padrão, como se esse modo de administrar constasse de uma cartilha imaginária, adquirida por quem assume o poder,  como uma espécie de maldição, de origem ainda desconhecida. Não há ação, pulso, força, empenho, e muito menos, união em torno do bem comum. O bem de Camocim acima de tudo, e de todos, acima de partidos, cores, siglas e poderes aparentemente independentes, só é celebrado nos discursos pós-eleição, em posses e diplomações. É como se, ao falar em uma administração suprapartidária naquele momento servisse como um falso remédio para uma real doença. Em meio a tudo isso, fica sempre o povo, que a cada 20 anos, assim como um estrangeiro na sua própria casa, constata que o tempo passa, deixando Camocim cada vez mais para trás.
Postado por Tadeu Nogueira às 13:01h