sexta-feira, 25 de julho de 2014

RELENDO A VIDA

O artigo abaixo foi publicado no Camocim Online em 01 de Setembro de 2009. Hoje trago ele novamente à tona, primeiro, atendendo a um singelo pedido do amigo, leitor e colaborador deste blog, o Pesquisador Luiz Gonzaga, e depois, para dedicá-lo ao também amigo e leitor, Carlos Augusto Trévia. 
RELENDO A VIDA
Quando comecei a me entender por gente (novinha essa), tudo que eu via pela frente eu lia, desde bula de Buscopan até catálogo telefônico. Sempre tive fascínio por notícias, tenho fome de saber o que "diacho" está acontecendo no mundo. Eu acompanhava as notícias em uma época que internet era algo impensável por essas bandas da América do Sul. O sujeito procurava livros, revistas, do contrário ficava na mais completa ignorância, sendo refém do que a Globo dizia ser verdade no Jornal Nacional. Hoje cedinho deu uma saudade doida do tempo em que eu aguardava ansioso por revistas periódicas, sendo que nos dias atuais basta um clique e você tem o mundo na tela. Lembrei saudosamente da Revista Seleções e ao mesmo tempo do Seu Zé Trévia, homem sério em todos os aspectos, inteligente e que sempre foi um bom debatedor. 
Eu era leitor assíduo da Seleções e Seu Zé Trévia mais ainda, o que nos levava a discutir sobre a edição do mês, sempre que acabávamos a leitura. Tudo que eu era a favor ele era contra e Deus me livre de discordar assim de cara, tinha que ser pelas beiradas, como quem não quer nada, querendo.
Quando Seu Zé despontava na esquina da Caixa Econômica (atualmente Varejão Machado), eu já estava sentado no meu canto preferido da "budega" do meu pai, cuidando em afiar o latim sob o risco de ficar sem argumentos. Ele vinha em marcha lenta, mãos sempre para trás e com o olhar atento, já buscando encontrar o Cabeção do Tadeu para discutir a leitura do mês.
As visitas de Seu Zé Trévia foram rareando e foi aí que notei que o tempo não perdoa, a velhice machuca e as doenças chegam sem piedade. A última vez que falei com ele foi inesquecível. Ele trazia nas mãos trêmulas uma caixa de papelão, nela havia vários exemplares da Seleções, todos das décadas de 40 e 50, raríssimos. Meus olhos brilharam com aquele presente, mas ao mesmo tempo, vi naquele ato a despedida de um homem sofrido, muitas vezes incompreendido, mas profundamente inteligente e amigo. Poucas semanas depois ele partiu desse mundo e por um bom tempo eu acabava me pegando fitando a esquina, como se tivesse esperando pelo meu parceiro de bons papos.
Não há tela nesse mundo que supere o prazer de folhear uma revista ou livro com aquele cheirinho de novo, ou de raro, trazendo até nossa mente tudo que existe nesse mundão de meu Deus. Quem dera nossos jovens lessem mais, escutassem sempre os mais velhos e soubessem valorizar cada momento da vida.
Postado por Tadeu Nogueira às 09:15h