segunda-feira, 29 de junho de 2015

SOBRE CAMOCIM...

A IGREJA E A FESTA DE SÃO PEDRO
Vivemos mais um novenário de São Pedro, esta festa santa e profana quase centenária em homenagem ao santo apóstolo Padroeiro dos Pescadores de Camocim e feriado municipal. Um pouco de saudosismo: quem não lembra das festas de outrora no adro da igreja representadas pelos partidos azul e vermelho, capitaneadas pela saudosa Barrinha e a incansável Ana Maria Veras? Hoje os tempos são outros, mas as recordações ficam. Não sei o porquê, mas sempre torcia para o vermelho!
O meu tempo de Paróquia de São Pedro está associado ao Padre Edvaldo, na sua luta constante, que dotou à igreja de inúmeros benefícios e reformas. Para outros mais velhos do que eu, a passagem do Padre Benedito Genésio foi de grande valia, principalmente pelas ações do Serviço de Promoção Humana (SPH) na área da educação.
No entanto, poucos sabem das primeiras motivações que tiveram os fundadores desta igreja no final dos anos 1930. Inaugurada em 29 de junho de 1942 pelo monsenhor Inácio Nogueira Magalhães, o obra foi iniciada pelo Padre Manoel Henriques. Para tanto, o referido sacerdote dirigiu uma carta aberta a comerciantes e povo em geral de Camocim pedindo ajuda para a construção do templo católico. Vale ressaltar nesta carta as justificativas do padre, demonstrando o contexto histórico daquele tempo, principalmente, o combate ao comunismo. Um trecho da tal carta é emblemática. Para ele, a igreja de Sao Pedro serviria para suprir: necessidades não sómente espirituaes e moraes [...] mas também sociaes e patrioticas",[...]"contra a callamidade do communismo, apregoada fascinantemente pelas organizações inimigas". Não precisamos dizer que  Camocim à época era uma importante célula da militância comunista no Ceará.
Por outro lado, para além dessa preocupação com a ideologia política ou com a assistência religiosa e social no combate à prostituição que se verificava na região da praia, outro documento esclarece motivações outras como a disputa religiosa representada por outros credos "particularmente às protestantes, actualmente aqui pregadas, de mil e novecentos e trinta e tres para cá, por ininterruptas missões protestantes norte-americanas".
A Igreja de São Pedro foi erguida e a festa estabelecida. Hoje é uma das nossas principais festas religiosas de rara beleza, notadamente pela procissão marítima. Quem quiser mergulhar em suas águas nostálgicas, ninguém melhor a descreveu como o escritor Carlos Cardeal em "O Terra e Mar". Bom mergulho e viva São Pedro!
Carlos Augusto Pereira dos Santos
Historiador
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