sábado, 28 de maio de 2016

O POÇO DOS DESEJOS

O POÇO DOS DESEJOS 
(Avelar Santos)
Da última vez que avistamos o intrépido Chico Preá, ele estava deitado placidamente (não de todo em berço esplêndido) na sua estreita cama de campanha, que ficava bestamente vigiando, sem necessidade alguma, o amplo corredor que dava acesso aos franciscanos aposentos do Núcleo dos Estudantes de Camocim (NEC), na Liberato Barroso, na capital alencarina, tentando inutilmente afastar da “cachola”, quase vazia de ideias e de bons pensamentos, o convite para uma feliz noitada, com as alegres e famosas quengas da Leste-Oeste, que os habituais amigos de copo lhe haviam feito, de forma solene, veraz, persuasiva mesmo - e que ele educadamente recusara.
Agora, quase pronto para dormir, metido no seu indefectível pijama de flanela cor de laranja, um pouco surrado, é verdade, pelo uso excessivo, e que certamente não via sabão há incontáveis semanas, transmutando-se perigosamente para marrom, ainda um pouco impaciente por não ter acompanhado devidamente os nobres conterrâneos para uma farra daquelas, ele fica a imaginar qual deles será o felizardo que conhecerá, digamos, mais intimamente, a Mariane, uma loira oxigenada escultural, de peitos e bunda excepcionais, de deixar qualquer um com torcicolo e de queixo caído, babando, extremamente carinhosa e dadivosa, que conhecera semanas atrás num animado bate-coxa lá no SECAI. 
Antes que venha a pensar algo mais concreto sobre aquele assunto (que poderia lhe desagradar bastante), ele se entrega profundamente nos seguros braços de Morfeu. No seu sono, agitado, cheio de cansaço e incertezas, vislumbra uma pequena - e desconhecida - criatura, vestida de verde da cabeça aos pés, com um esquisito chapéu pontudo, que não lhe caía nada bem, postado como uma palmeira à beira de uma imensa cacimba, falando, aos gritos, com seu inconfundível sotaque irlandês, com o nosso colega de República, que evidentemente não compreendia patavina daquilo que ouvia, pois, aluno pouco aplicado do Liceu do Ceará, mal sabia ele onde ficava a Grã-Bretanha se porventura alguém ousasse lhe pedir para indicar a Terra da Rainha no mapa-múndi. 
No sonho, ele intuiu (talvez por ser medroso) que aquela “coisa” era alguma visagem que viera infernizar um pouco mais a sua noite, como se já não bastasse o barulho ensurdecedor das buzinas dos carros e das dezenas de ônibus, que se revezavam, por ali, mal educados, nos finais de semana, madrugada afora.
Percebendo que a comunicação precisava de outro insight para realmente acontecer, o duende (sim, o visitante era um duende de verdade) resolve apelar para os seus poderes telepáticos, pois, como é sabido por todos, inclusive pelo próprio Chico, ele é detentor há séculos de uma gama de superpoderes, tornando-o, dessa forma, um ser especialíssimo na Criação. Com o devido ajuste feito na sintonia fina do processo comunicativo, o Preá imediatamente começa a ouvir – e entender - direitinho a “fala” do nobre cavalheiro da Irlanda. Continue lendo AQUI