quinta-feira, 21 de julho de 2016

UMA "LOCOMOTIVA" DE 102 ANOS

Foi essa a comparação feita por uma das filhas do Camocinense José Ferreira dos Santos, aposentado da RFFSA, que comemorou, nesta sexta-feira (20), em Fortaleza, ao lado de amigos e familiares, 102 anos de idade.   
Disse Fátima Santos:
"Todos sabemos que o trem sempre foi a expressão maior da sua paixão, por conseguinte, resolvi compará-lo a uma Locomotiva a Vapor, denominada de Maria Fumaça.
Uma máquina primitiva que vem funcionando sem fazer uso dos recursos tecnológicos existentes para melhorar seu desempenho, sua aparência e nem seu material rodante, como também nunca adotou as regras de comportamento impostas pela sociedade, para ser aceito ou admirado por muitos.
Essa locomotiva meio estranha bem que poderia ser alemã por sua austeridade, obstinação e respeitabilidade, como também inglesa por sua nobreza de caráter, confiabilidade e originalidade ou até mesmo japonesa por sua longevidade, engenhosidade e autenticidade, no entanto é brasileira, cearense da gema, diplomado pela Academia Camocinense de Artes e Letras, como Membro Honorário, exatamente por seu exemplo de vida, honradez e cidadania.
A longevidade dessa máquina ferroviária, com certeza, deve -se às manobras rotineiras nas Oficinas da Catedral, nas Igrejas Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora das Dores e São Benedito, com missas e comunhões diárias, com o intuito de melhorar peças e acessórios.
Os eixos apresentam um certo desgaste, provavelmente pelo tempo de uso e também, pelo excesso de velocidade desenvolvido ao longo de suas andanças.
Os faróis não iluminam, não clareiam mais como antes, a luz é turva. Neste aspecto a máquina trava, se emperra, porque ficou impossibilitada de ler e de elaborar suas crônicas.
Os combustíveis da locomotiva a vapor são lenha e água. Assim, alimenta a sua caldeira com com um tipo de lenha chamada peixe, diariamente, a partir das 18:30h (almoço). Bebe constantemente, aguardente, cachaça pura, em qualquer caixa d'água, de preferência a Ypióca, porém, na falta desta, qualquer outra satisfaz.
A fumaça que ela exalava quando em movimento era muito gostosa, cheirava a Charuto Cubano e a cigarro Minister.
O vapor que continua a expelir é muito quente, forte e intenso na fé, nos sonhos e na generosidade. Os mais novos sonhos: bater recorde de vida e casar-se novamente, com uma jovem senhora, naturalmente.
O apito e o sino do trem eram nostálgicos, principalmente quando o chefe de trem era o meu pai, recordo-me com emoção do medo que eu tinha quando criança.
Imagino como não seria esse apito, quando partia para Crateús. Certamente, era potente, sonoro e prolongado, a fim de chamar a atenção da Adalgisa, que o Zé dos Santos estava chegando.
Carro de bagagem, ah, esse era o carro mais valioso porque guardava os saberes, a cultura e o conhecimento, cujos elementos foram o seu passaporte para que pudesse ingressar na antiga RVC/RFFSA através de 3 concursos públicos.
No primeiro concurso para Chefe de Trem, classificou-se em 1° lugar; depois para Fiscal de Trem, novamente 1° lugar e por último,depois de afastado das funções, para Inspetor de Trem, com apenas 7 vagas, obteve o 6° lugar.
1° Estação ferroviária - Maria Maciel dos Santos.
Terminal ferroviário privado, para estacionamento do trem e recebimento dos vagões:
Efigênia, Fátima (Fátima Ponci), Sarto, Francisca (Franci Aragão)
Após o desabamento dessa estação, trafegou solitário por 4 anos, fazendo paradas rápidas em algumas subestações.
As três curvas perigosas que encarou quando estava sem área para estacionamento foram: Adalgisa, Petronília (Petu) e Expedita Torquato. Nessas três curvas o trem quase desencarrilou se não fora as freadas bruscas no seu material pensante.
Causa: os pais delas não concederam licença para embarcarem nesse trem. As três tiveram o mesmo destino, convento.
2° Estação ferroviária - Margarida Quariguazil Souza Santos.
Nesse Terminal foi contemplado com 07 vagões, um aumento significativo na composição do trem: Tadeu, Avelar Santos, R Augusto Santos, Rosa Santos, Vicente, Minerva - Eva Santos e Angelo Roncali Sousa Santos.
Essa máquina ferroviária teve força suficiente para rebocar um comboio de 11 vagões pesados, apesar de vazios, com segurança, abnegação e pulso forte, até poderem ser atrelados a outras locomotivas.
3° Estação - Outono Solitarium. Encontra-se estacionado no pátio final da seção ferroviária em Jacarecanga-Fortaleza, fazendo pequenas conexões entre Igrejas, mercado do peixe, banco e supermercados sob os cuidados, zelo e dedicação da sua filha Minerva.
Como é prazeroso para mim, falar de quem tem exemplo de vida. Não é à toa que o senhor é meu espelho, minha estrela guia, ou melhor, minha ferrovia. Parabéns".
Maria Fátima Santos Ponciano
Lá vou eu: Não seria justo resumir essa homenagem. Por isso resolvemos, sem pedir licença, reproduzir seu inteiro teor. Vida longa à "locomotiva" José dos Santos. É uma honra registramos seu aniversário. Muita luz. 
Tadeu Nogueira