sexta-feira, 21 de abril de 2017

100 ANOS DE ODONTOLOGIA NO CEARÁ - O DESAFIO DE ATUAR NO INTERIOR

A Revista Odonto Nordeste, direcionada a Cirurgiões-Dentistas, Acadêmicos de Odontologia e Profissões Auxiliares da Odontologia, dedicou sua edição de Março de 2017, aos 100 anos da Odontologia no Ceará, tratando da História e valorização do ensino dessa belíssima profissão. A publicação histórica conta com a participação do Odontólogo Camocinense, Francisco Lopes. O profissional, que trabalha em Camocim, escreveu o artigo de opinião intitulado "O Desafio de Atuar no Interior do Estado". Segue o texto: 
Cheguei em Camocim, no dia 08 de Setembro de 1993, com a simples proposta de passar alguns meses, fazer um pé-de-meia, voltar pra Fortaleza, montar consultório e começar a vida profissional. Um projeto não muito diferente do de tantos outros colegas na época.
No entanto quis o destino que os planos mudassem e estou há quase 24 anos (com um breve intervalo de 6 meses quando morei em Portugal) trabalhando e atuando no interior do Ceará. No começo tudo era muito difícil e a odontologia era exercida de forma muito precária. Tudo era feito manualmente, do amálgama à resina. Não havia aparelhos e todo o equipamento era obsoleto e enferrujado, a cuspideira era um balde para se ter uma ideia. Isso sem falar na remuneração que era ridícula e sempre atrasava. Mesmo assim, com todo esse sofrimento resolvi investir na cidade. Trabalhei um tempo em Portugal, voltei e montei meu primeiro consultório. 
Nesses quase 24 anos me aperfeiçoei em Ortodontia, Implantodontia e Prótese sobre implantes, fiz um curso de imersão em Harmonização Facial com toxina botulínica e preenchimento com ácido hialurônico e construí uma clínica multidisciplinar. Durante 12 anos trabalhei no serviço de saúde pública e no consultório com carga horária superior a 10 horas por dia. Essa é inclusive uma característica comum à maioria dos dentistas que atuam no interior do Estado, conjugar consultório particular com alguma função na prefeitura, PSF, UBS, CEO, etc.
Hoje a situação está bem melhor, com Unidades de Saúde mais bem equipadas e materiais mais modernos e adequados para a prática da odontologia no setor público. No entanto o que compromete a qualidade do serviço prestado é a formação acadêmica dos profissionais dentistas, geralmente oriundos de faculdades “pague-e-passe” ou públicas de péssima avaliação no MEC. Por uma questão cultural, a demanda por especialidades no interior difere bastante daquela da capital. Ainda há muita procura por Exodontia, Prótese parcial e total, em detrimento a outras áreas como Endodontia, Prótese fixa, Periodontia, Implantodontia, etc. 
O mercado para dentistas no interior do Estado, com raras exceções, está saturado e tendendo a piorar com o tempo devido a proliferação de Faculdades de Odontologia em nosso Estado e em nossa Região. Para quem decide encarar o desafio de trabalhar em cidades do interior com até 50, 60 mil habitantes é preciso estar bem preparado e dominar várias especialidades para conquistar seu espaço no mercado e lograr algum sucesso profissional. Infelizmente nas cidades do interior do estado, pelo menos as de pequeno e médio porte, não há demanda suficiente para que se possa viver de uma ou duas especialidades odontológicas. 
Francisco Lopes de Souza (Chico Lopes)
(Aperfeiçoamento em Ortodontia - Centro Avançado de Ortodontia Paulo Picanço - CAO; Aperfeiçoamento em Implantodontia - Instituto Cearense de Implantodontia - ICI; Aperfeiçoamento em Prótese sobre Implantes - Instituto Cearense de Implantodontia - ICI; Curso de Toxina Botulínica, Preenchimento e Biomodelação Orofacial - Instituto de Pesquisa e Ensino Odontomed - IPEOM)