sábado, 20 de maio de 2017

SAUDADES DO FUTURO

SAUDADES DO FUTURO 
(Avelar Santos) 
Sou de uma época jurássica primitiva, bem anterior a tudo que se imagina, quando o mundo vivenciava, aflito, dia após dia, nas mais diversas latitudes e longitudes, a guerra fria, os avanços e recuos militares intermináveis no embate estratégico de duas superpotências, Estados Unidos e União Soviética, cujo clímax aconteceu quando a inteligência americana descobriu que os soviéticos haviam instalado mísseis em Cuba, o que levou à iminência de uma catástrofe nuclear que, para sorte de todos, evidentemente não aconteceu.
Agora, mais uma vez, passados cinquenta anos desse fato histórico, a humanidade vive novamente momentos de aflição, de medo, por conta do acirramento da tensão entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, cujo ditador, de nome tão esquisito quanto ele próprio, Kim Jong-un, um baixinho de olhos repuxados e com alguns parafusos soltos, resolveu acintosamente desafiar as leis internacionais, que regem tal assunto, realizando testes quase que semanais com artefatos balísticos intercontinentais que, em tese, podem levar ogivas atômicas e causar uma destruição de proporções inimagináveis.
Do outro lado do conflito, encontra-se o magnata Donald Trump, guindado recentemente à Presidência da América, derrotando não se sabe como a candidata favorita nas pesquisas, Hillary Clinton, apoiada por Obama, cujas características nebulosas centrais apareceram tão logo ascendeu ao poder (a impulsividade e a arrogância), que já determinou o envio de submarinos e porta-aviões para o Mar do Japão, área em que acontece este conflito, como meio de dissuadir o Presidente Norte-Coreano a tomar qualquer atitude mais intempestiva.
Não é preciso, portanto, ser nenhum Einstein para chegarmos à conclusão óbvia que estamos amarrados a um barril de pólvora, cujo estopim está preste a ser aceso, com prejuízos incalculáveis para todo o globo, sendo o início do fim, configurando-se o temível Armagedom, desde que a ação da diplomacia dos países contendores não surta o efeito imediato tão esperado.  
Ainda existe uma saída para esse bizarro e perigoso imbróglio. E isto é muito bom. Prova disso, é que, recentemente, uma autoridade coreana de alto escalão disse que o governo de Pyongyang pode ingressar em um diálogo produtivo com o governo de Washington se as condições forem corretas. Segundo esta fonte, isto acontece em meio a um aumento dos esforços internacionais para pressionar o país comunista a desistir de seus interesses beligerantes e, consequentemente, reduzir as tensões que atingiram níveis alarmantes, de lado a lado, cujos tentáculos insidiosos e maléficos se distendem, infelizmente, a outras nações, na aldeia global.
E eu que me aposentei faz pouco tempo, depois de uma eternidade no Magistério, na Terra da Luz, que pensava, aqui, com os meus pálidos botões, nos anos restantes da existência, sob a complacência das bênçãos celestiais, em cuidar de bichos e de plantas num pequeno sítio, adquirido com suor e lágrimas, na zona rural de minha amada Camocim, desfrutando da simplicidade prazerosa da vida do campo, ouvindo, fascinado, o canto mavioso dos passarinhos, nos cajueiros, ao redor da casa, revigorando o espírito alquebrado com louvações ao Criador, ao romper de cada aurora, rendendo-lhe franciscanamente graças por tudo, inclusive pelos percalços do caminho que tanto me fortaleceram, ao longo da jornada, observar toda essa descomunal insensatez, me traz uma insônia danada - e calafrios intermitentes.
Que o bom Deus tenha piedade de nós, acalmando os ânimos inflados desses dois mandatários, e que restabeleça, para nossa mais completa alegria, o quanto antes, sobre o planeta inteiro, o manto sagrado da paz mundial. Que saudades do Futuro!
Avelar Santos (Professor e Escritor)