sexta-feira, 12 de outubro de 2018

MEU TEMPO BOM

Não gosto de dizer que tempo bom era o de antigamente. Acho meio egoísta tal afirmação. 
Cada pessoa tem um tempo bom para chamar de seu. O meu, bom, o meu, me remete ao ócio infanto-juvenil.
Nessa época, uma de minhas maiores “preocupações” era com a  noite chegando para atrapalhar nosso “10 minutos ou 2 gols” no velho “Passatempo” da Pracinha do Amor. 
O “racha” acontecia sempre no meio da tarde. Para que os mais novos entendam, o “Passatempo” era um local coberto, pertinho do atual píer, que servia para abrigar os passageiros das lanchas que faziam a travessia até a Ilha do Amor.  
Colocávamos duas pedras em cada extremidade, servindo de “gol” e passávamos a tarde jogando bola. Era meu tempo bom. Vez por outra saía faísca da canela de um. E quando a bola caía na maré cheia, era certo um “cangapé” no trampolim para pegar a redonda.
Zé Nílson Piluca, Carimbó, Batista Piluca (Baré), Sérgio Passos, Clemilton (Tatá), Tote, Neto Cruz, entre muitos outros amigos de infância, foram meus parceiros de “racha”. 
Entre uma partida e outra, eu parava alguns minutinhos para admirar a Ilha do Amor, nossos mangues e o vai e vem das ondas. Nunca cansei dessa visão. Quase 40 anos depois, me pego fazendo isso, como se fosse a primeira vez. 
Sem whatsapp e celular, amigos marcavam pessoalmente as estripulias do dia seguinte. Era raro o que “dava balão”. Somente uma “papeira” forte, um dente recém-arrancado, uma catapora braba ou um “terçol” de fechar os olhos, conseguia nos deixar em casa. Nem castigo de mãe conseguia nos prender na clausura dos nossos lares. 
Sobre meu tempo bom, tenho dois sentimentos: saudade do ócio permitido e alegria por tê-lo preenchido intensamente.  
Postado por Tadeu Nogueira às 10:07h