segunda-feira, 29 de junho de 2020

MAR SEM PEDRO

Na pancada das 16 horas, mais conhecida como 4 da tarde, sempre no dia 29 de junho, quem era católico vestia sua melhor roupa para acompanhar a lindíssima procissão marítima de São Pedro, padroeiro dos pescadores. 
Foi assim desde quando me entendi por gente. No auge do ciclo da lagosta, o cortejo de embarcações mal deixava transparecer a cor do mar, de tão grande que era. 
Ano após ano, principalmente depois que o grande crustáceo deixou de mover a economia local, os barcos foram diminuindo de tamanho e quantidade, porém, nada era capaz de barrar o festejo que começava no mar e terminava em terra, com a tradicional missa campal. 
Comparecer à balaustrada não era sacrifício algum, já que não era apenas a fé que incentivava a ida, mas também o colorido das velas e o principal barco, o maior de todos, que tinha a honra de singrar o Rio Coreaú, levando consigo a imagem de São Pedro. 
Hoje, 29 de junho de 2020, não vai ter nada disso. A ordem não veio do Presidente, do Papa ou do Bispo. Quem deixará as velas arriadas, o santo na igreja e os fiéis em casa, tem o nome esquisito de Sars-Cov-2
A única coisa que ele não conseguirá impedir é a fé e a certeza de que tudo que ele trouxe de ruim vai passar. Em 2021, daqui a exatamente um ano, teremos a volta da tradição, festejando, sobre as verdes ondas do atlântico, além do santo, a vitória da vida.  
Postado por Tadeu Nogueira às 12:57h