domingo, 20 de março de 2022

O ACHADO DUVIDOSO

Por Artur Queirós 
(Memorialista Camocinense) 

O achamento do Brasil em 1500, segundo os debochados, não vale um cruzado, por injunções óbvias: começou com uma pilantragem, pois Cabral, navegador experiente de "mares nunca dantes navegados", errou em cálculos de navegação de modo primaríssimo e deu nas costas do atual Brasil, um caminho em sentido contrário de sua rota programada. 

Ora, para que andar atrás das Índias a tão longe distância, como supunha, coisa incorreta, coisa incerta, vacilante e duvidosa aventura, se índias bem nutridas e fresquinhas estavam por aqui dando sopa? 

Daí sai uma carta matreira e mentirosa que faz a cabeça do rei de Portugal, que acreditou numa tal de calmaria. E já não existiam anemômetros, astrolábios, quadrantes e outras quinquilharias em uso de navegação? 

Partindo de tais dúvidas, o encarregado do diário de bordo, sem muito o que fazer, pois que novidades eram sempre ondas; babão por excelência, esbaldou-se na redação de uma carta laudatória e prolixa para chegar ao mais importante: pedir emprego para um genro. 

Daí, o nefasto empreguismo que grassa por aqui, desde então até ao ponto de um senador, parece-me, da atual república, quando interpelado pelo seu nepotismo familiar de empreguismo, a começar pela mãe e esposa, saiu-se com a maior cara de pau deste mundão: "Uma me pariu e a outra dorme comigo, merecem, portanto, minha inteira confiança!" 

Será que comparecem e assinam "ponto"? E a tal proibição legal para tais casos? Ah! os regulamentos que vão às favas. E o povão, humilhado e sem emprego, que se dane! É imensa a legião dos que passam fome e frio por aí, desempregados, a família passando fome, e os homens do poder a estudar em hipócritas reuniões, seminários etc, gastando inutilmente rios de dinheiro e bem alimentados, procurando descobrir a causa de tanta criminalidade! É imensa a cavilosidade de tal cinismo, ora!

Os donos do poder atual mandaram afastar para bem longe, vários quilômetros, quaisquer índios, os que procuram um pedaço de chão para trabalhar e outros menos aquinhoados dos festejos de Porto Seguro, na Bahia de São Salvador, para não os apoquentarem nos festejos comemorativos dos quinhentos anos, juntamente com o Presidente de Portugal, a mãe Pátria, como chamam. 

Foi ali que os Portugueses se encontraram com os índios, índias e mais ninguém. Então, a comemoração deveria ser entre os índios e o representante de Portugal, Certo? Pois não é que os índios e os pobres foram afastados, barrados bem distante, uns treze quilômetros antes, a tratos de bico de borzeguins, armas empunhadas e muitas porretadas. A um índio ajoelhado, pedindo clemência, quebraram-lhe, entre outros, a cara e afundaram-lhe vários dentes. Isto ficou documentado fotograficamente, como mostrou a televisão, jornais e revistas, pasmem!

Senhores do chamado poder, que são repudiados pelo povo, como nos dá conta o IBOPE, tratem os verdadeiros e legítimos donos da terra brasileira com o respeito e a justiça que merecem! A Igreja Romana, mui cautelosa e justa, em termos, ali mesmo em Porto Seguro, penitenciou-se com abençoada humildade, pedindo perdão a negros e índios pelo descaso com que os tratou no decurso de 500 anos, entregues à imensa fúria de uma suposta e claudicante democracia corrupta, desumana e selvagem. 

O Caminha, na sua prolixa carta, gabou muito a uberdade do solo daqui, fértil e exuberante, dizendo que, "em nela se plantando, tudo dá." Pois não é que plantaram um pé de ladrão? E olha como frutificou bem! É ladrão por todos os lados, ladrões de gravata, os chamados colarinhos brancos. Todo mundo (guardadas louváveis exceções) mete a mão no dinheiro do contribuinte. 

O noticiário Nacional dá conta de tudo: juízes, senadores, deputados, muitos outros do poder público e a imensa fieira dos barões da Elite fazem parte deste imenso trem da alegria, e continuam triunfantes, rindo da cara do contribuinte, como bem proclama o apresentador Boris Casoy. Numa sociedade veracíssima, todos corados, gordos e fortes, tranqüilos e felizes, quando, em contrapartida, disso decorre que milhões de brasileiros, esquálidos e miseráveis crianças tristes e famintas, homens de 50 anos transformados em rebotalhos, encarquilhados e trôpegos, aguardam o último sono, como almejado lenitivo. 

Cenário em que mulheres de 30 anos (a mulher ideal, segundo Honoré de Balzac), transformadas pela fome e a miséria em rebotalho humano, cara de rugosidade e tristeza, pernas e braços finos pela fome, pelanca de seios que vão até a cintura, oh! que horror tétrico e macabro contraste às moçoilas lindas e perfumosas da televisão, modelos altos, esguios, fascinantes. Matronas robustas, de volumosas enxúndias, sacrificam-se comendo pouco para não engordar, enquanto aquelas outras transformadas em rebotalho humano, fruto da inglória e injusta distribuição de renda, clamam no deserto por uma côdea de pão.

Este Brasil começou mesmo, risível, bobão. Vejam Pedro I, o que gritou a Independência após uma noitada de farra com a amante, Domitila de Castro, depois transformada pelo dito Imperador em Marquesa de Santos. Ora, aquilo tudo já havia sido ensaiado cuidadosamente em Portugal com os seus ancestrais, os virtuais donos da colônia que se transformou em país. Pedro I roubava cavalos da coudelaria do pai e os vendia para gastar em libidinagem.