domingo, 17 de julho de 2022

SOBRE CAMOCIM E OS COMUNISTAS

Por Carlos Augusto P. dos Santos*

As relações históricas de Camocim com o comunismo já são conhecidas pelos trabalhos anteriores já publicados por nós em livros como Cidade Vermelha, A Casa do Povo e Sobre Camocim. 

No entanto, estas relações extrapolam estes textos, tanto pela militância que cada um consegue fazer, ou das memórias que cada um carrega. Pude perceber isso em mais uma data comemorativa da fundação do Partido Comunista no Brasil, no último dia 25 de março. Comemorou-se, com um lauto café duas datas do partido: 92 anos no país e 86 em Camocim. Com boa presença de filiados e simpatizantes, foi composta uma mesa eclética onde oradores fizeram o uso da palavra parabenizando a trajetória partidária, de seus fundadores e enfocando os atuais objetivos e obstáculos que a militância enfrenta. 

Na recorrência dos discursos, duas constatações: a primeira de que a semente plantada em março de 1928, o sangue derramado pelos militantes nas repressões e nas torturas sofridas nas ditaduras Vargas e civil-militar de 1964 não foi em vão. Nesse sentido, o militante Amadeu lembrou das palavras do fundador do PC em Camocim, Francisco Theodoro Rodrigues por nós recuperada em Cidade Vermelha, além de outros militantes como Pedro Rufino e João Ricardo. A segunda constatação é de que hoje o partido sofre uma metamorfose por conta de uma nova conjuntura e dos novos desafios. 

Quando coube-me falar, realcei essas mudanças usando como exemplo o próprio evento que ali ocorria: uma reunião de partido comunista na Escolinha do Lions, denominada de Monsenhor Inácio Nogueira Magalhães. Não é demais lembrar que em tempos recentes os clubes de serviços (como o Lions), ou a Igreja Católica foram instituições que combateram o comunismo. Hoje, a palavra comunismo parece não assustar muito as pessoas, pelo que o sentido que hoje ela adquire: comum, comunidade, igualdade. Mesmo assim, vale registrar o depoimento do Aderaldo Lima que disse que uma senhora se benzeu diante dele quando o mesmo dissera que viria a uma reunião dos comunistas. 

De alguma forma, os resquícios da repressão política e da intensa antipropaganda religiosa, nos tempos da repressão ainda podem ser vistos e presenciados. Não podendo ficar até o final da reunião, deixo aqui os parabéns ao PC do B de hoje, com representação na Câmara Municipal (vereador Oliveira da Pesqueira) e participantes de militantes na atual administração.

*Professor, Historiador, Escritor e Blogueiro (Camocim Pote de Histórias) 
Texto escrito em 2014, postado originalmente no Blog Camocim Pote de Histórias
 Foto: Manifestação contra a retirada dos trens de Camocim - Janeiro de 1950