domingo, 21 de agosto de 2022

MORTO, MAS VIVO

Por Avelar Santos*

Em 1930 teve início a ascensão meteórica do Partido Nazista, ao poder, cujo líder, Adolf Hitler, nomeado Chanceler, em 1934, pelo presidente Paul von Hinderburg, faria o mundo chorar, anos depois, os horrores da II Grande Guerra, trazendo, também, grande sofrimento ao povo germânico.

Com a mudança política, começou um tempo de perseguição, inclusive religiosa, o que levou muitos frades alemães a fugirem do país, buscando outras plagas para disseminarem a boa semente dos ideais do franciscanismo mundo afora.

Assim, muitos daqueles que deixaram o seu torrão natal escolheram o nordeste brasileiro como a nova Terra Prometida.

Dessa forma, IPUARANA surgiu, radiante, nos alcantis da Serra da Borborema, em Lagoa Seca- PB, eternizando o brilho do farol do conhecimento - e da religiosidade.

Por este tempo, uma legião de jovens ingressava, regularmente, no Seminário de Santo Antônio, oriundos das Escolas Preparatórias de Triunfo-Pe, Canindé-Ce, Tianguá-Ce e João Pessoa -Pb.

De 1949 a 1953, o camocinense Mardônio Rocha Veras ali estudou, destacando-se como aluno brilhante, sendo "primeirão" de turma, um feito deveras extraordinário, haja vista que naquela Casa sempre houve estudantes de rara inteligência.

Nessa época, em IPUARANA, os frades vindos da terra do genial Goethe eram os mestres, por excelência, na engenhosa arte de se esculpir jovens neurônios, instigando os alunos, cada vez mais, a se debruçarem na janela iluminada do saber.

E o tempo passou tão depressa!

Logo ao sair do Seminário, Mardônio Veras foi aprovado com louvor no concurso público do Banco do Brasil.

De fino trato com as pessoas, de competência excepcional, ele galgou, ligeiro, o posto de gerente, vindo a atuar, nos anos 70, na cidade de Camocim-Ce.

Na mocidade, morei a uma quadra de sua residência, à Rua Engenheiro Privat, fazendo amizade com sua família.

Depois, fui morar em Fortaleza - e não mais o vi.

Certa feita, de volta ao lar dos meus antepassados, soube, por um amigo comum, que ele havia partido para as estrelas, o que muito me entristeceu.

Ao comentar o seu falecimento com alguns colegas ex-seminaristas, fui informado, pelo Dr. Newton Timbó, tratar-se de um engano, da minha parte, porquanto o Sr. Mardônio ainda vivia.

Como acreditara piamente no que ouvira, anteriormente, fiquei deveras surpreso com essa alvissareira notícia trazida a lume pelo nobre discípulo de Hipócrates.

E assim aconteceu!
De morto, Mardônio Veras passava longe, vindo, até, a contrair segundas núpcias.

Hoje, vivinho da silva, ele traz, na memória, as recordações dos tempos áureos de Ipuarana em que cada coração batia alegremente ao compasso franciscano.

*Professor e Escritor