Todos os dias pelo menos uma pessoa cometeu suicídio, somente no Ceará, neste ano. Por mês, cerca de 40 pessoas tiraram a própria vida, de acordo com dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), mantido pela Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa).
Até o mês de julho foram registrados 275 suicídios no Estado. Já no mesmo período de 2021, foram 365, uma redução de 24,65% quando comparados. Apesar da redução, o volume de casos ainda chama a atenção negativamente.
Durante todo o ano passado, foram 678 suicídios no Ceará. Para se ter um comparativo, o Boletim Epidemiológico sobre as Lesões de Trânsito no Ceará, divulgado pela Sesa, aponta que 580 pessoas perderam a vida em acidentes com motos. Ou seja, o acidente de trânsito, considerado o mais fatal no Estado, ainda é menos letal que o suicídio. Se somar os registros de óbitos de outros acidentes de transportes terrestres (250), pessoas ocupantes de um automóvel (168), pedestres (134) e ciclistas (34), ainda assim não chega ao número de mortes autoprovocadas.
Os dados são contundentes e precisam ser debatidos. Para jogar luz no problema que afeta a vida de tantas famílias, a Organização Mundial de Saúde (OMS) instituiu, em 2003, o 10 de setembro como o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio.
A psicóloga e orientadora da Célula de Saúde Mental e Práticas Sistêmicas Restaurativas do Comitê de Responsabilidade Social da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), Raquel Penaforte, chama a atenção para o crescimento em 25% dos casos de depressão e ansiedade no mundo com o cenário da pandemia, conforme a OMS. De acordo com ela, os dados são preocupantes, tendo em vista que o Brasil desponta como um dos países com maior índice de ansiosos e depressivos.
Diante desse cenário, Raquel Penaforte alerta para a necessidade de discutir mais sobre saúde mental, como campanhas do Setembro Amarelo, que buscam informar a população.
Para a psicóloga, é necessário ainda reforçar os serviços disponibilizados para atender a crescente demanda de atendimentos psicológicos e psiquiátricos. “Falar sobre o assunto possibilita não só o acesso às informações, mas desmistificar e desestigmatizar o adoecimento mental e o suicídio. A informação é o principal veículo de prevenção primária. Esse assunto precisa ser tratado com a seriedade que merece”, pondera.
A coordenadora da Célula de Psicologia do Departamento de Saúde e Assistência Social (DSAS) da Alece, psicóloga Conceição Guerra, enfatiza a necessidade de discutir o tema, sobretudo em um cenário mundial com pandemia e surgimento de novas doenças que “dispararão gatilhos de ansiedade e depressão”. Segundo a profissional, a necessidade de pertencimento e validação do ser humano tem ficado cada vez mais acentuada, diante da grande exposição às mídias sociais.
“É nas mídias onde ocorrem os julgamentos e os cancelamentos, fatores que podem levar ao adoecimento psíquico, desencadeando uma ideação suicida, dependendo da gravidade desse adoecimento”, avalia.
A pessoa com ideação suicida geralmente apresenta sinais persistentes de melancolia, comportamentos retraídos e similares que devem ser observados, conforme a psicóloga. Conceição Guerra pondera, no entanto, que se uma pessoa está passando por um momento de dificuldade, não significa que ela desenvolverá um quadro depressivo ou que cometerá suicídio, porém familiares e amigos têm papel fundamental estando atentos aos sinais e procurando ajuda profissional, se preciso.
Conceição destaca também a urgência em incrementar ações voltadas principalmente para a prevenção do suicídio, assim como fornecer suporte com tratamento adequado para aqueles que estão vivendo esse conflito, atuando juntamente às famílias no cuidado com seus entes queridos.
Os gatilhos para a ansiedade e depressão são, muitas vezes, resultado de ações presentes no convívio social.
ONDE BUSCAR AJUDA
Quem está ou conhece alguém que esteja passando por momentos difíceis, com depressão, ansiedade ou sinais e sentimentos que remetem ao suicídio, é importante procurar ou indicar ajuda especializada, o mais breve possível. Há instituições como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e o CVV, que podem dar o devido suporte profissional.
Por Tadeu Nogueira
Fonte: ALECE