sexta-feira, 9 de setembro de 2022

NO CEARÁ, SUICÍDIOS SUPERAM MORTES NO TRÂNSITO

Todos os dias pelo menos uma pessoa cometeu suicídio, somente no Ceará, neste ano. Por mês, cerca de 40 pessoas tiraram a própria vida, de acordo com dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), mantido pela Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa). 

Até o mês de julho foram registrados 275 suicídios no Estado. Já no mesmo período de 2021, foram 365, uma redução de 24,65% quando comparados. Apesar da redução, o volume de casos ainda chama a atenção negativamente.

Durante todo o ano passado, foram 678 suicídios no Ceará. Para se ter um comparativo, o Boletim Epidemiológico sobre as Lesões de Trânsito no Ceará, divulgado pela Sesa, aponta que 580 pessoas perderam a vida em acidentes com motos. Ou seja, o acidente de trânsito, considerado o mais fatal no Estado, ainda é menos letal que o suicídio. Se somar os registros de óbitos de outros acidentes de transportes terrestres (250), pessoas ocupantes de um automóvel (168), pedestres (134) e ciclistas (34), ainda assim não chega ao número de mortes autoprovocadas.

Os dados são contundentes e precisam ser debatidos. Para jogar luz no problema que afeta a vida de tantas famílias, a Organização Mundial de Saúde (OMS) instituiu, em 2003, o 10 de setembro como o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio.

A psicóloga e orientadora da Célula de Saúde Mental e Práticas Sistêmicas Restaurativas do Comitê de Responsabilidade Social da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), Raquel Penaforte, chama a atenção para o crescimento em 25% dos casos de depressão e ansiedade no mundo com o cenário da pandemia, conforme a OMS. De acordo com ela, os dados são preocupantes, tendo em vista que o Brasil desponta como um dos países com maior índice de ansiosos e depressivos.

Diante desse cenário, Raquel Penaforte alerta para a necessidade de discutir mais sobre saúde mental, como campanhas do Setembro Amarelo, que buscam informar a população.

Para a psicóloga, é necessário ainda reforçar os serviços disponibilizados para atender a crescente demanda de atendimentos psicológicos e psiquiátricos. “Falar sobre o assunto possibilita não só o acesso às informações, mas desmistificar e desestigmatizar o adoecimento mental e o suicídio. A informação é o principal veículo de prevenção primária. Esse assunto precisa ser tratado com a seriedade que merece”, pondera.

A coordenadora da Célula de Psicologia do Departamento de Saúde e Assistência Social (DSAS) da Alece, psicóloga Conceição Guerra, enfatiza a necessidade de discutir o tema, sobretudo em um cenário mundial com pandemia e surgimento de novas doenças que “dispararão gatilhos de ansiedade e depressão”. Segundo a profissional, a necessidade de pertencimento e validação do ser humano tem ficado cada vez mais acentuada, diante da grande exposição às mídias sociais. 

É nas mídias onde ocorrem os julgamentos e os cancelamentos, fatores que podem levar ao adoecimento psíquico, desencadeando uma ideação suicida, dependendo da gravidade desse adoecimento”, avalia.

A pessoa com ideação suicida geralmente apresenta sinais persistentes de melancolia, comportamentos retraídos e similares que devem ser observados, conforme a psicóloga. Conceição Guerra pondera, no entanto, que se uma pessoa está passando por um momento de dificuldade, não significa que ela desenvolverá um quadro depressivo ou que cometerá suicídio, porém familiares e amigos têm papel fundamental estando atentos aos sinais e procurando ajuda profissional, se preciso.

Conceição destaca também a urgência em incrementar ações voltadas principalmente para a prevenção do suicídio, assim como fornecer suporte com tratamento adequado para aqueles que estão vivendo esse conflito, atuando juntamente às famílias no cuidado com seus entes queridos.

Os gatilhos para a ansiedade e depressão são, muitas vezes, resultado de ações presentes no convívio social. 

ONDE BUSCAR AJUDA

Quem está ou conhece alguém que esteja passando por momentos difíceis, com depressão, ansiedade ou sinais e sentimentos que remetem ao suicídio, é importante procurar ou indicar ajuda especializada, o mais breve possível. Há instituições como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e o CVV, que podem dar o devido suporte profissional.

Por Tadeu Nogueira 
Fonte: ALECE