quinta-feira, 6 de outubro de 2022

BOLSONARO TENTA VOTOS NO NORDESTE CHAMANDO POVO DE BURRO POR VOTAR EM LULA

Por Leonardo Sakamoto (UOL)

Antes de começar, vale o aviso: burrice não é a falta de letramento. Um camponês analfabeto pode não saber navegar na internet, mas duvido que você saiba produzir alimento como ele. Burro é, na verdade, quem cultiva o preconceito violento como sabedoria, como muitos políticos. Jair Bolsonaro associou o analfabetismo no Nordeste à vantagem de 12,9 milhões de votos que Lula teve em relação a ele na região no primeiro turno. Disse que há "falta de cultura". 
Isso não foi um deslize, isso foi legitimação.

Nem precisaríamos explicar que uma pessoa analfabeta não é burra, apenas não teve acesso à educação formal devido à burrice do Estado brasileiro. 

Burro não é quem separa sujeito e predicado por vírgula. Muita gente não entende isso e desvaloriza a opinião do outro por não compartilhar dos mesmos padrões de fala ou do mesmo universo simbólico. Algumas das pessoas mais sábias que conheci são iletradas.

E alguns dos maiores idiotas têm doutorado. Significa que os iletrados são melhores que os doutores? Não. Então, o contrário? Também não. Pois é burrice achar que usar ou não a norma culta da língua é condição para participar do debate público. 

A burrice é quem menospreza o conhecimento, seja ele qual for, chegando a odiar quem o detém ou quem busca aprendizado. Nesse sentido, podemos afirmar, sem sombra de dúvida, que o atual governo - que lutou contra vacinas, que estragou o Enem, que cortou orçamento de universidades e institutos de pesquisas - é burro. 

Essa burrice, prepotente e apressada, também xinga um texto ou vídeo na rede sem ter consumido nada além de seu título ou visto o nome do autor ou autora. E, diante das críticas sobre a superficialidade desse comportamento, rosna, dizendo que tudo o que é importante pode ser escrito em uma linha ou um tuíte. Ou que acredita que um produto é 
ruim simplesmente por não ter ido com a cara do rótulo.

Burro é aquele que vê seu preconceito violento como sabedoria.

Essa burrice, montada na soberba, pensa que já sabe de tudo a ponto de tachar os que discordam de sua visão de mundo como mal informados, comprados ou manipulados sem apresentar dados e fatos que corroborem a crítica. Ou tenta calar as vozes diferentes da sua por encarar a dissonância como ruído e não como música.

Pois a burrice sempre tenta destruir o conhecimento que ameaça jogar luz sobre ela própria.