domingo, 4 de dezembro de 2022

AMANHECER NO PARAÍSO

Por Avelar Santos*

O Sol ainda não raiou de todo!

Após louvar, humildemente, ao Senhor, pela benção de mais um dia, o velho fusca, amigo dileto, leva-me, num trote ágil e seguro, à Avenida Beira-Mar.

Bordejando o manguezal da Ilha da Testa Branca, cuja visão romântica faz-me recordar as aventuras extraordinárias de Robinson Crusoé, vê-se uma flotilha de velas brancas, dirigindo-se, majestosas, ao Pontal da Barra.

Nesse momento, uma paz do tamanho do Atlântico invade afoitamente o meu coração, fazendo-me renovado comigo mesmo, ouvindo o irmão vento dizer que devo afastar de minha alma toda mágoa, para que, finalmente, quem sabe, o rio caudaloso da alegria possa fluir nas ribanceiras da minha vida – e que eu possa ser verdadeiramente feliz!

Cavalgando os penachos das ondas, as canoas somem, além do horizonte, rumando para o local da pescaria.

Próximo das Pesqueiras, na copa dos coqueirais, uma legião de educados bem-te-vis saúda-me alegremente.

Na altura do cinturão da Pedra do Mero, os bastardos, dormitam, ao sol, com a proa voltada para a terra, parecendo acenar, para mim, com seus velames.

Ao passar pelo Mirante, observo o deus Aton caminhando, solenemente, pelo céu. A paisagem é de tirar o fôlego!

Rejuvenescido, como se fora uma criança, aspiro o ar marinho a plenos pulmões, com o fusquinha, resoluto, seguindo, em frente, com a determinação de Aníbal, o grande general cartaginês, que sonhou, com destemor incomum, mas em vão, conquistar a orgulhosa Roma.

Ao chegar ao El Mirador, debruço mais uma vez o meu olhar apaixonado para o oceano, cuja cauda gigantesca me enlaça, num abraço simbólico, expressando que nada é impossível àquele que crê - e confia - no Altíssimo.

Sorrio com tamanha deferência do meu estimado irmãozinho esverdeado, que tanto alegra os meus pobres dias, e, erguendo os punhos, para ele, em silenciosa saudação, dou meia volta.

Como se soubesse da nostalgia dos meus pensamentos, talvez com receio de me ver chorar, pela saudade atroz dos tempos idos, que me devora o peito, o fusca segue, agora, trotando, assobiando perdidas canções, levando-me para casa.

Que o Todo Poderoso, na sua infinita misericórdia, permita que, amanhã, este abençoado ritual franciscano, que tanto me apraz, tenha um novo capítulo!

*Professor e Escritor

Foto: Vando Arcanjo