domingo, 27 de agosto de 2023

MAGALHÃES NOGUEIRA NETO - O POETA ESTIVADOR

Quem tem menos de 40 anos certamente não conheceu Magalhães Nogueira Neto. 

Nunca soube seu prenome, mas era pelo sobrenome que a cidade toda lhe conhecia. Não era o padre, o prefeito, o juiz ou mesmo um funcionário público. Tratava-se de um carreteiro a prestar serviços entre o porto e a estação. 

Os escritores R. B. Sotero e Avelar Santos já o consagraram em suas crônicas no jornal "O Literário". Sotero o alcunhou de "poeta estivador" por sua polidez para com as prostitutas da época, que além de lhe devotarem favores sexuais, tinha atitudes de gentleman dedicando-lhes músicas e poesias. 

Em crônica publicada no "O Literário", Avelar Santos alcunha Magalhães Nogueira Neto de “O Inimitável” e traça-lhe um perfil: “Profissão: Chapeado da RVC. Local de trabalho: Estação ferroviária. Lazer: cachaça, mulher e música”. 

Inimitável pela maneira impecável de se vestir, inimitável pelo trato com as pessoas: “Emérito boêmio e boa praça, mesmo semi-analfabeto, conversava animadamente com quantos lhes cruzavam o caminho”. 

Portanto, Magalhães Nogueira Neto, mesmo radicado em Camocim, procurava se destacar entre os demais, realizando seus carretos diariamente e fazendo uma freguesia fiel. À noite, exercia com maestria uma espécie de personagem pelas praças e bares da cidade, distribuindo simpatia às “damas da periferia”. 

Avelar Santos continua a descrevê-lo: Quanto mais ele emborcava uns bons tragos de POJ – famosa cachaça de antanho – mais ele se derretia em gentilezas com as ‘moiçolas’, singelas e pueris mariposas noturnas, ofertando-lhes, cavalheirescamente, ‘páginas musicais’ românticas inigualáveis, daquelas arranca-coração, que o GB, naquela voz empastada de locutor de FM, ‘lançava para o ar’ nas possantes bocarras da ‘radiadora’ da Voz de Camocim. 

Magalhães Nogueira Neto com certeza desfilou seu charme pessoal pelos territórios da folgança em Camocim como um homem comum que foi dono de sua história como tantos outros.

Texto extraído do livro "A Nostalgia dos Apitos", de Carlos Augusto P. dos Santos