sexta-feira, 13 de outubro de 2023

A RODA DA VIDA

Escrevi e publiquei o texto abaixo pela primeira vez no Camocim Online no dia 24 de dezembro de 2008, quando a página tinha apenas 7 meses de existência. 

1, 2, 3, partiu...

Na década de 80, até pouco depois dos anos 90, Camocim recebia, na véspera de natal, visitantes de todos os distritos e de cidades vizinhas. 

Era uma festa a chegada desse povo nos paus-de-arara, no caminhão do Seu Chico Cabrinha e nas "derrinte" de Granja. Quando dava umas 6 da tarde, a praça Pinto Martins estava até o talo de menino, mulher buchuda e "caba" de chapéu de palha. 

Estávamos diante de uma festa do interior no interior. Era os "culumim" espichando os "zói" para as barraquinhas de bugigangas, mulher escolhendo brinco e pulseira, homem comprando espelho com foto de mulher pelada atrás, o Sibite se esgoelando, tentando convencer o povo de que as "cuecas de copim" eram de primeira qualidade e eu vendendo refresco de maracujá, na bodega de meu pai, com pão da padaria do Seu Raimundo Aragão. 

Esse povo todo comia, bebia e fazia "hora" até o momento da missa do galo. Até lá e depois disso, eles viravam esse Camocim do avesso, sendo que a grande atração da noite era mesmo o parque Ibiapaba, do Seu José Simão.

O parque ficava ao lado da prefeitura, em frente à Igreja Matriz, e tinha de tudo nele: os botes, o famigerado e sanguinolento "espalha brasa", a barraca de tiro (eu nunca acertava os vidrinhos), o lançamento de argolas, a famosa barraca de caipira do Seu Manduca e o serviço de som do parque. Esse era bom demais. 

O divertido do parque era oferecer música para a namorada, mas, se fosse um namoro escondido, o sujeito escrevia só as iniciais. Daí o locutor falava: "Num patrocínio de Casa Siebra, essa página musical é oferecida por Severino dos Santos e vai para a cocotinha das iniciais M.L.T.C, que deve muito bem compreender". 

Encerrando esse passeio no parque, não poderia esquecer a atração maior: ela, a famosa roda gigante. A do parque Ibiapaba ficava ao lado da caixa d'água. A terceira estrutura mais alta da cidade (atrás apenas do prédio do atual antigo INPS e da torre da Teleceará), ela metia medo na “negada” que vinha da zona rural pela primeira vez. 

Tinha sujeito que ficava horas olhando a bicha rodando, numa dúvida cruel entre arriscar entrar ou ter que aguentar a “mangoça” da turma depois. Na véspera de Natal, a roda tinha tanta gente na fila, mas tanta gente, que era preciso dar só meia rodada senão ia ter que virar a noite. 

Alguns vibravam quando ela travava. Isso era vantagem de quem estava na cadeira do alto, pois assim dava para avistar as luzes da cidade, lá do alto, afinal, voo panorâmico de pobre é roda gigante de parque.

Antigamente existia um ar romântico em tudo isso, talvez curtíssemos mais cada momento ou é provável que eles fossem tão raros que, por conta disso, tornavam-se tão preciosos. 

Seja como for, aproveite cada instante da sua vida, cada brincadeira. Desfrute de momentos reais com pessoas que pensam como você. Quem sabe daqui a 10 ou mais anos você esteja contando o seu passeio no parque.

Por Tadeu Nogueira