domingo, 5 de novembro de 2023

AS PARTEIRAS DE CAMOCIM

Por Francisca Karla Pinto Lima

Antigamente em Camocim era muito comum as mulheres terem seus filhos em casa com ajuda de uma parteira. 

Minha sogra, Dona Ivonete, conta que os partos dos seus filhos foram feitos pela parteira conhecida como Dona Maria Balbina, que era uma das mais requisitadas da cidade. 

Ao entrar em trabalho de parto imediatamente ela era chamada. Sem muitos recursos e contando muitas vezes com a sabedoria popular, salvavam vidas, onde o poder público não as alcançavam com os serviços médicos. Os materiais utilizados eram simples e arcaicos, mas, na maioria das vezes, eficientes. 

De prontidão iniciava-se os trabalhos de parto apalpando a barriga da gestante para sentir o quanto as contrações estavam acontecendo. Panos limpos, água quente, tesoura esterilizada e uma cadeira com um buraco no meio, para a gestante se sentar e uma dose de palavras meigas e firmes, deixavam calmas e confiantes as futuras mamães.

Os primeiros cuidados com o bebê eram prestados pela parteira, que dava o primeiro banho e orientava quanto à forma de cuidar do cordão umbilical do recém-nascido, para que caísse mais rapidamente. 

No pós-parto, por um determinado período de tempo, havia uma série de restrições, tanto alimentares, quanto de atividades domésticas, como por exemplo: de não poder se abaixar, manter relações sexuais ou tomar banho com água fria. 

Hoje em dia, as grávidas dispõem de facilidades para ver o bebê, para saberem se estão em perfeita saúde e sem qualquer deformidade ou doença. 

Ultrassonografias de rotina e as ecografias 3D ou 4D são incríveis, porque nos permitem ver o bebê mesmo no útero. Nas gestações de 30 anos atrás não tinham como ver o bebê no útero. As mães só podiam imaginar a carinha do seu bebê e tinham que se contentar com o que o médico ouvia e dizia sobre os batimentos cardíacos. 

Hoje estamos acostumadas a irmos ao ginecologista antes, durante e após a gravidez. Este médico é especializado em controlar o desenvolvimento e crescimento do bebê no útero e normalmente, com o passar do tempo, construímos uma relação de confiança com ele. 

Mas, há mais de 30 anos, as revisões na gravidez podiam ser feitas somente por uma parteira. Existiram várias parteiras em Camocim, na qual destaco algumas delas: Maria Gaúcha, Maria do Lino, Creuza, Maria Balbina, Raquel e a Mãe Filó como era conhecida. 

Atualmente, em alguns municípios, como Sobral, as parteiras são incluídas no sistema de saúde recebendo instruções e cursos de especialização numa parceria interessante entre o saber médico e a cultura popular.

Texto extraído do Livro "Camocim é um Pote de Histórias"
Organizadores: Carlos Augusto P. dos Santos e Raimundo Nonato Rodrigues de Souza