terça-feira, 21 de novembro de 2023

DEMORA DA PEFOCE E AÇÃO DE CURIOSOS DUPLICA A DOR DE QUEM FICA

Em Camocim e demais cidades do extremo litoral oeste do Ceará, o tempo de recolhimento de um corpo pode demorar até 7 horas ou mais. 

Tudo depende do "movimento" do dia no Núcleo de Perícia Forense da Região Norte (Pefoce), localizado em Sobral, que atende, acredite, 31 municípios. Essa população beira 1 milhão de habitantes. 

No caso, como exemplo, se uma viatura da Pefoce estiver em serviço em Barroquinha, ela pode ser acionada para uma ocorrência em Pires Ferreira, distante 232 km. Serão mais de 3 horas de viagem. Isso se não tiver outro caso pelo meio do caminho. 

Ou seja, além da dor da perda por parte de familiares, sobretudo em mortes causadas por armas ou trágicos acidentes de trânsito, existe uma segunda dor, a da espera forçada da chegada do conhecido "rabecão". Como se não bastasse, a família tem que lidar com uma horda de curiosos mórbidos, ávidos por fotos e vídeos do corpo. Para esses, quanto mais "estragado" o cadáver, melhor para alimentar suas redes sociais. Virou uma doença essa prática. 

Sobre a demora da Pefoce, em um caso recente de acidente na estrada Camocim-Barroquinha, em que um mulher morreu após ficar presa entre as ferragens do veículo, isso em pleno sol escaldante de um final de manhã, o corpo só foi recolhido quase no início da noite. E mesmo sob calor intenso, lá estavam os curiosos de plantão, armados com seus celulares. 

No início de outubro deste ano, o governador Elmano anunciou um Núcleo da Pefoce para a Região da Serra da Ibiapaba, que deverá ter Tianguá como base. 

Camocim, do alto de seus 40 homicídios registrados até domingo (20), talvez seja a cidade da zona norte que mais tem consumido a cota de combustível da Pefoce. Isso sem falar nos acidentes. Por esses e outros números extremamente negativos, já passou do tempo de merecer também uma base da Pefoce para atender, não só Camocim, mas os demais municípios da região. 

O pleito é justo, porém, se levarmos em conta o fato de que a cidade não conta nem mesmo com uma Delegacia de Polícia Civil, a dor da espera de quem perde alguém continuará por muito tempo. 

Por Tadeu Nogueira