domingo, 9 de junho de 2024

PRIVATIZAÇÃO DAS PRAIAS: REFLEXO DA LUTA DE CLASSES E A EXCLUSÃO SOCIAL

Por Professor Julênio Braga

O problema de transformar os nossos mares e praias em propriedade privada é um exemplo perfeito da luta entre diferentes classes sociais. 

Mostra como os ricos e poderosos estão a tentar controlar os espaços públicos, o que só levará a mais divisão e desigualdade. 

Podemos compreender esta questão observando como o poder e a exclusão funcionam juntos na sociedade. Estas ideias intemporais destinam-se a autores como Karl Marx, Friedrich Engels e Georg Wilhelm Friedrich Hegel, que moldaram a nossa compreensão da sociedade e da história.

A dialética hegeliana, uma ideia-chave no pensamento marxista, explica como as ideias e as realidades sociais mudam através do conflito e da síntese entre forças opostas. Hegel acreditava que a realidade era composta de ideias diferentes que se chocavam, mas eventualmente encontraram uma maneira de trabalhar juntas e melhorar as coisas. 

Olhando as coisas de um ângulo diferente, posso mostrar como a decisão de permitir que as pessoas usem a praia de forma privada é resultado de um desentendimento entre dois grupos que estão tentando encontrar uma solução.

Karl Marx e Friedrich Engels, utilizando a dialética hegeliana, criaram a Teoria da luta de classes, que é um conceito-chave no estudo do materialismo histórico. 

Marx acreditava que a história da sociedade humana gira em torno das batalhas constantes entre diferentes grupos de pessoas: os ricos e os pobres, os patrões e os trabalhadores, os capitalistas e os trabalhadores. Na praia, a classe rica quer transformar algo que é de todos em propriedade privada, deixando a classe trabalhadora desamparada.

Essa dinâmica de apropriação e exclusão pode ser vista como uma expressão contemporânea da acumulação primitiva descrita por Marx em sua obra clássica "O Capital". A acumulação primitiva refere-se ao processo histórico de separação dos trabalhadores dos meios de produção, que resultou na formação da classe trabalhadora e na concentração de riqueza nas mãos da elite. 

Privatizar praias ou mares é uma extensão moderna desse processo, onde espaços públicos são convertidos em propriedades privadas, restringindo o acesso com base na capacidade financeira. É uma tentativa de sobrevivência do capitalismo falido da atualidade. 

A privatização de praias, portanto, não é apenas uma questão de política de uso e ocupação do solo, mas uma forma de perpetuar e intensificar a desigualdade social. 

Quando os ricos fecham as praias para uso exclusivo, estão não só restringindo o acesso físico, mas também enviando uma mensagem simbólica de que esses espaços são apenas para os 'merecedores', uma clara alusão à meritocracia distorcida que sustenta muitas justificativas neoliberais.

O filósofo marxista Henri Lefebvre, em sua obra sobre o direito à cidade, argumenta que todos devem ter acesso igualitário aos espaços urbanos. Lefebvre estende esse conceito ao ambiente natural, sugerindo que o acesso livre a espaços como as praias é um direito fundamental. A exclusão desses espaços pela privatização é uma violação desse direito e uma intensificação da segregação espacial e social.

Por outro lado, a resistência a essa privatização pode ser vista como uma luta dialética, onde as classes oprimidas buscam reapropriar-se dos espaços que lhes são negados. A luta contra a privatização das praias é uma forma concreta de resistência ao neoliberalismo e à mercantilização de todos os aspectos da vida.

O pensamento dialético nos ajuda a compreender que essas lutas não são apenas reações momentâneas, mas parte de um processo contínuo de transformação social. Assim como a tese encontra sua antítese, a privatização enfrenta a resistência, e dessa síntese, emerge a possibilidade de novas formas de organização social, mais justas e inclusivas.

A dialética, com sua ênfase na mudança através do conflito, nos fornece as ferramentas para entender e, eventualmente, superar essas injustiças. A luta continua, não apenas pela preservação dos espaços públicos, mas pela construção de uma sociedade onde todos tenham acesso igualitário às riquezas naturais e sociais.

E, para nosso entendimento final, a privatização das praias é uma expressão moderna da luta de classes, enraizada nas contradições do capitalismo que Marx e Engels tão eloquentemente descreveram.