domingo, 9 de junho de 2024

UM GOLEIRO ETERNO

Por Avelar Santos*

Disputada no México, a Copa do Mundo de 1970 foi a primeira a ser televisada! 

Um acontecimento tecnológico grandioso para os padrões da época!

Antes disso, somente as ondas do rádio traziam para dentro dos lares o momento supremo do gol, narrados nas vozes de inesquecíveis locutores de antanho.

Naquele tempo longínquo, eu estava em Ipuarana, em Campina Grande-PB, de mãos dadas com os estudos, recém chegado dos claustros sagradosdo convento de Tianguá.

No seminário havia uma sala, com uma velha tv preto e branco, onde assistíamos, cheios de alegria, os jogos daquela fenomenal seleção canarinho.

Com o seu toque de bola refinado, tendo Pelé, como seu mestre-sala, acompanhado de passistas insuperáveis: Jairzinho, Rivelino, Tostão, Gérson, o escrete nacional encantou o mundo.

E o Brasil, com brilhantismo, foi ganhando, um por um, os seus jogos, enchendo de contentamento noventa milhões de patrícios, até chegar à semifinal.

A emoção estava no ar!

Quis o destino que o Uruguai fosse o nosso adversário, naquela fase, assombrando a todos nós com a lembrança do que acontecera na final da Copa de 50.

Naquele dia fatídico, no finzinho do jogo, Gighia, um ponta direita franzino, veloz, foi lançado, e, correndo como um foguete, ao se aproximar da grande área, chutou a pelota, que passou rente à trave, vencendo o grande Barbosa, calando por uma eternidade o Maracanã.

E o fantasma uruguaio novamente apareceu! Logo nos primeiros minutos da partida, eles fizeram 1x0. E o medo de um novo fiasco da Seleção recrudesceu de vez, varrendo todo país.

Recordo-me que a tensão somente era contida, aqui e ali, na saleta superlotada, pelo roer das unhas dos colegas mais ansiosos, passando pelo incentivo de outros, aos nossos atacantes, para que pudéssemos, enfim, sair daquele sufoco.

De olhos fitos na telinha, vimos, com o coração batendo de felicidade, no apagar das luzes da primeira etapa, após uma jogada espetacular da equipe inteira, Clodoaldo escancarar as redes do goleiro Ladislao Mazurkiewicz, empatando o "match", o que deu novo ânimo aos jogadores.

Alegria geral!

No segundo tempo, o Brasil faria mais dois gols, vencendo o jogo pelo folgado placar de 3x1.

Este jogo foi marcado por dois lances geniais de Pelé!

No primeiro, com um magistral drible de corpo, ele passou pelo arqueiro, mas chutou para fora, sendo considerada, ainda hoje, uma das jogadas mais belas de todos os mundiais.

No segundo, após um de tiro de meta, desferido pelo goleiro da Celeste, o rei do futebol, tentando surpreender Mazurka, finalizou de primeira, obrigando-o a fazer uma defesa portentosa, que marcaria a memória dos confrontos futebolísticos.

Mazurkiewicz foi ídolo do Peñarol, conquistando inúmeros títulos nacionais, além da Libertadores - e do Mundial de Clubes de 1966.

Carismático, cinzelou indelevelmente o seu nome na Seleção do Uruguai, nas décadas de 1960 de 1970, sendo o guarda-metas titular de seu país em três Copas do Mundo: Inglaterra (1966), México (1970) e Alemanha (1974).

Naquele mundial memorável, o Brasil sagrar-se-ia tri-campeão, enquanto o Uruguai terminaria em quarto lugar.

Como reconhecimento às belas atuações que tivera, ao longo do torneio, com intervenções precisas, pontuais, a FIFA elegeu Mazurkiewicz o melhor goleiro da competição.

Ratificando o ótimo desempenho de Mazurka, naquela oportunidade, o soviético Lev Yashin, o "Aranha Negra", considerado o melhor goleiro da história, por muitos, ao ser indagado por jornalistas, afirmou que o arqueiro uruguaio era legitimamente o seu sucessor.

Os ídolos não morrem jamais!

Mazurkiewicz permanecerá para sempre na lembrança dos amantes do futebol arte, principalmente na alma singela do povo uruguaio, que tanto o admirava, passando, doravante, com a sua viagem recente às estrelas, a reverenciá-lo, merecidamente, no  panteão da glória dos heróis nacionais!

*Professor e Escritor Camocinense