Foto: Festa do Milho, em homenagem
ao Dia do Trabalhador, em 1º de maio de 1963, em Camocim.
Da
esquerda para direita, João Batista Aguiar, Prefeito Municipal; Lúcia Pinto e
Ivalda Farias de Medeiros, Rainhas da Festa do Milho, respectivamente, de 1962
e 1963; Padre Ivan Pereira de Carvalho, Diretor do Ginásio Padre Anchieta; e
Sub-Tenente Almir, instrutor do Tiro de Guerra nº 250.
Até o ano de l955, nenhum estabelecimento educacional da cidade de Camocim oferecia um nível de ensino além do primário, trazendo, assim, sérias dificuldades para aqueles pais que desejavam ver seus filhos avançarem mais na sua instrução formal.
Os mais abastados eram encaminhados para dar continuidade aos estudos em Sobral ou Fortaleza, ficando aqueles menos aquinhoados submetidos à frustração de não conseguirem transferir-se para os centros mais desenvolvidos, exclusivamente, por falta de condições financeiras, salvo algumas exceções.
Além disso, aquelas unidades educacionais não eram suficientes para atender o grande número, então já existente, de crianças em idade escolar, considerando que, de escola pública havia, somente, o Grupo Escolar José de Barcelos.
De ensino particular, contava-se com o Educandário São José, apenas para educação infantil, e com o Instituto Batista Pinto Martins, lecionando da primeira até a quinta série, dirigido por Missionários Batistas e até hoje lembrado como escola de excelente qualidade.
Verdadeiramente, pela importância numérica a ser considerada, a alfabetização e a educação básica estavam apoiadas e se expandiam naquele tipo de ensino que costumávamos chamar de “Escolinha Particular,” as quais não passavam de pequenas unidades de ensino, dirigidas por pessoas abnegadas que lecionavam, a preços irrisórios, vários graus de ensino na mesma turma, geralmente em sua própria residência, suprindo, assim, considerável parcela daquela demanda insatisfeita.
Esta realidade do ensino formal em Camocim começou a ser mudada no início de 1956, por ocasião da chegada, em nossa cidade, do Padre Ivan Pereira de Carvalho, tendo sido enviado, pela Diocese de Sobral, com a missão de iniciar o Curso Ginasial para a juventude camocinense, além de estruturar também, no mesmo colégio, o Curso Primário.
Assim nasceu o Ginásio Padre Anchieta, que iniciou com o ensino primário e a Primeira Série Ginasial, e foi incorporando, a cada ano, mais uma série no Ginasial, na medida em que uma nova turma se habilitava e galgava mais um degrau na escala do ensino.
Nos seus primeiros anos, os estudantes das séries primárias tinham as suas salas de aula no prédio, ainda hoje existente, da Associação Comercial, na Rua Dr. João Thomé, onde, acossados pelas dificuldades de professores e pelo reduzido número de salas disponíveis, os responsáveis pela fundação e administração daquela unidade de ensino chegaram a optar, temporariamente, pela redução das horas de aula, dividindo, uma mesma sala, para duas turmas diferentes em horários distintos de, apenas, duas horas.
As turmas das séries ginasiais tinham, à noite, as suas salas no andar térreo do prédio da Prefeitura Municipal, para onde, a partir de 1960, no horário diurno, as séries primárias do Ginásio Padre Anchieta se transferiram, após a extinção do Grupo Escolar José de Barcelos, o qual ocupara aquelas dependências, durante vários anos.
No ano de 1962, o Ginásio Padre Anchieta transferiu-se para o seu prédio próprio, bem próximo à Igreja Matriz, no mesmo local onde, hoje, encontra-se instalado o Colégio João Ramos, mas em prédio reformado e ampliado, bem diferente da modesta construção do Ginásio do meu tempo.
Reportando-nos àqueles anos de Ginásio Padre Anchieta, desde os meados da década de 1956, foram enormes as dificuldades sentidas para assegurar a sua continuidade, tendo em vista a carência de professores, levando a que a composição de seu quadro docente fosse complementado, principalmente, por bancários e sacerdotes.
Por mais de duas décadas, o Padre Ivan Pereira de Carvalho foi o Diretor do Ginásio Padre Anchieta, e professor em várias matérias, de forma efetiva ou em costumeiras substituições, não importando qual fosse a sala ou a disciplina em que surgisse a lacuna deixada pelo professor ausente.
Nem a sua fama de disciplinador severo ofuscava a estima e admiração que tantos alunos lhe dedicavam. A juventude camocinense jamais negou o testemunho de sua gratidão pela contribuição que o velho educador dispensou às famílias camocinenses.
Dentre as suas inúmeras virtudes, destacava-se a simplicidade com que pautou sua vida, esquivando-se, inclusive, das homenagens que lhe eram prestadas, por ocasião da data de seu aniversário de nascimento, ocorrido no dia 08 de novembro de l909.
Em 1959, por ocasião de sua data natalícia em que completou cinquenta anos, o Padre Ivan articulou uma viagem a Sobral, a fim de “resolver assuntos ligados à administração do Colégio”. Com esta argumentação, que nada mais era além de uma desculpa para fugir das homenagens que inevitavelmente viriam, ele embarcou no trem, que partia de Camocim antes do despontar do sol. Entretanto, desejosos de render-lhe uma merecida homenagem naquele dia, seus admiradores não deixaram arrefecer o seu entusiasmo e aguardaram o seu retorno, à noite, com a chegada do trem.
No horário previsto, a Praça da Estação encontrava-se repleta, enquanto a Maria-Fumaça adentrava a enorme estação, diante do foguetório que encheu os ares de fumaça. Com o semblante sério, o passageiro mais aguardado desembarca e, naquele momento, reconhece ser impossível desvencilhar-se daqueles que o esperavam para um gesto de saudação e um abraço de gratidão.
E por eles foi seguido, em passeata, pelas ruas de minha terra, até a casa onde residia, na Rua 24 de Maio. Ali, através de uma comissão de representantes, foi-lhe entregue um presente, simbolizando o profundo reconhecimento dos estudantes do Ginásio Padre Anchieta.
Da janela de sua residência, cuja altura era elevada pelo próprio estilo arquitetônico, o velho Diretor dirigiu o seu discurso ao numeroso grupo de estudantes, que lotava todo o espaço da rua. Em suas palavras, poucas referências lembravam seu aniversário, exceto aquelas usadas para externar o seu agradecimento.
No seu emocionado pronunciamento, predominou o sentido de sua preocupação com a educação da juventude camocinense, culminando com o apelo exaltado a que cada um assumisse a sua honrosa responsabilidade diante da construção de nosso futuro.
No meu saudoso Ginásio Padre Anchieta, percorri todas as séries, do primário ao completo Curso Ginasial, de onde guardo pitorescas histórias e as mais felizes lembranças.
Durante o Curso Ginasial, por três vezes tive a honra de presidir, ora o Grêmio Esportivo, ora o Grêmio Literário, quando nos envolvíamos em todas as atividades comemorativas do Colégio ou do Município, quer fossem datas cívicas ou, simplesmente, de política estudantil.
Concluí o meu Curso Ginasial em 1965, em meio a uma década quando este Curso era visto de forma prestigiosa de causar orgulho, haja vista as festividades que eram realizadas em comemoração ao seu término.
Era de praxe a sessão solene de entrega de certificados, com seus oradores e, ainda, o Baile de Formatura, com a tradicional e inesquecível valsa dos concludentes e seus respectivos padrinhos ou madrinhas.
Da festa de conclusão de meu Curso Ginasial, deixo, aqui, o registro de sua realização no dia 19 de dezembro de 1965, no salão do Camocim Club, animada pelo Conjunto Musical Os Cometas, da cidade de Ipu, que fazia um enorme sucesso, nos dias de então.
Dos meus antigos companheiros ginasianos, com quem partilhamos ardorosos dias de nossa juventude, salutares recordações. Aos nossos mestres de então, a minha gratidão e efusivas congratulações, pelas sempre lembradas lições.
Texto extraído do livro "Outros Tempos", de José Maria Trévia