Por Carlos Cardeal (Escritor Camocinense)
É noite alta, da janela do meu quarto só vejo escuridão; não tem lua, e o céu é triste e pobre de estrelas, não tem a lua, infelizmente, para tudo parecer um conto. Somente a insônia vem para interromper meus sonhos.
Tudo é silêncio, apenas o cantar dos galos e o barulho dos gatos no cio sobre o telhado me dão a certeza de que lá fora há vida. Vez por outra, o vento traz barulho de música, mas até o vento, nesta noite escura, é muito escasso.
As casas de festas noturnas, bares e restaurantes funcionam regularmente, e eu sei que seria melhor se estivesse por lá, mas lá eu não posso estar.
Sinto-me “persona non grata”, estou pra baixo. A insônia é minha única companheira, mas não é uma boa companhia para cabeceira. Ela insiste, gruda e não larga. Tento ler.
Procuro ver televisão; mas é tudo em vão. Se ao menos tivesse a chuva com goteiras no telhado para me embalar o sono.
O som da chuva no telhado é cantiga de ninar e ainda serve para afugentar os gatos. É incrível como a insônia é silenciosa e provoca tanta inquietude e pensamentos torpes.
Trecho da Crônica "Insônia", de Carlos Cardeal, escrita no final dos anos 1990.
Lá vou eu: Carlos Cardeal, meu amigo, nos deixou precocemente, aos 52 anos de idade, em 11 de outubro de 2007, após não resistir à sequelas deixadas por uma ataque covarde praticado por dois delinquentes.