quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

A ESTRELA DE BELÉM

Por Avelar Santos* 

“Alegrai-vos sempre no Senhor; alegrai-vos”. (Filipenses 4:4).

Eis que a estrela que um dia guiou os reis magos, vindos, pressurosos, do Oriente, seguindo alegremente o seu brilho até que ela apontasse para uma gruta, encravada nos arredores de Belém de Judá, onde o Menino-Deus que acabara de nascer, dormitava, sereno, numa manjedoura, sob o olhar cuidadoso de Maria, continua a luzir, no céu, iluminando os caminhos dos homens de boa vontade, para que possam, também, louvar, com júbilo no coração, a chegada desse Pequenino, que traz, nas suas mãozinhas, para a humanidade, o ramo de oliveira do amor, da esperança e da paz.

Foi na casa de meu avô Antônio dos Santos, homem bom, íntegro, trabalhador, cuja consorte, D. Guida, minha avó, mulher de uma fortaleza incomum, de grande determinação e força de vontade, muito solícita comigo, sempre dirigindo a mim palavras gentis, naquelas manhãs ensolaradas, hoje ofuscadas pelas sombras do passado, que, nos verdes anos da primeira infância, vi uma lapinha pela primeira vez.

Recordo-me que fora até lá, de manhãzinha, vendo o sol salpicar diamantes nas lagoas da Senador Jaguaribe, que se entrelaçavam e formavam um riachinho, correndo ligeiro na direção leste-oeste, deixar uma prenda que mamãe preparara para a ceia natalina deles, andando bem rápído, mas com o pensamento nas nuvens, matutando como estaria, àquela hora, o Sultão, cachorro esperto de vovô, que, vez por outra, pregava-me uns bons sustos, talvez querendo brincar de pega-pega ou aquilatar o meu nível de adrenalina, quando, usualmente na minha saída da residência, sabendo que não estava sendo vigiado pelo dono, sentindo-se, portanto, seguro da safadeza que iria perpetrar, fingindo malandramente não me reconhecer, começava a rosnar baixinho, com os caninos à mostra, ameaçando-me.

Por sorte, naquele dia, certamente envolto também pelo espírito natalino, que enfeitava os ares e descia à Terra, ele estava bastante cortês, quase mesmo falando, emitindo grunhidos mansos, musicais, acompanhando-me com a fidalguia própria de um nobre, olhando-me com complacência, até a cozinha, balançando o rabo como sinal de assentimento à minha presença, onde vovó estava às voltas em preparar o almoço.

Ao me ver, escoltado com tanto entusiasmo pelo Sultão, comandante em chefe daquela guarda real, um sorriso largo iluminou o seu rosto bondoso ao pedir-lhe a bênção, e, ato contínuo, entregando-lhe o presente que eu levava, perguntar-lhe por vovô, que, sabia, àquela hora, ainda deveria se encontrar na “baixa” cuidando das plantações.

Limpando as mãos no avental, que cingia sua cintura, deixando por um momento a Beata a cuidar de tudo, vovó levou-me à sala de estar onde pude contemplar, com alegria, o singelo presépio que ela fizera, dias antes, com destaque especial para as figuras que representavam a sagrada família de Nazaré.

E o tempo voou tão veloz que nem percebi!

Depois, na jornada da vida, tive a oportunidade de admirar outros presépios, alguns artisticamente perfeitos, mas nenhum deles jamais se igualou àquele da vovó.

Por vezes, tardiamente, percebemos que as coisas mais simples superam e muito a grandiosidade de algumas super- produções.

Que possamos todos nós compreender a essência do Natal do Senhor, que veio ao mundo para nos libertar das amarras de tantos erros, inclusive ancestrais, deixando um pouco de lado a superficialidade das luzes e enfeites coloridos inerentes à época.

Que o Filho amado do Altíssimo abençoe os nossos lares.

Feliz Natal!

*Professor e Escritor Camocinense