terça-feira, 9 de dezembro de 2025

CELULAR ANTES DOS 12 ANOS ELEVA RISCO DE DEPRESSÃO

A discussão sobre quando dar o primeiro celular a uma criança ganhou novos argumentos com uma pesquisa divulgada nesta semana. 

Segundo o levantamento, o acesso ao aparelho antes dos 12 anos está associado a maior risco de depressão, obesidade e noites de sono mais curtas.

O estudo acompanhou, por dois anos, mais de 10 mil adolescentes participantes do Adolescent Brain Cognitive Development Study (ABCD), um dos maiores projetos sobre desenvolvimento cerebral e comportamento juvenil nos Estados Unidos. 

A pergunta norteadora era: o que muda na saúde física e mental quando o celular entra muito cedo na rotina dos jovens?

A urgência do debate aumenta porque não existe uma orientação objetiva sobre a idade recomendada para o primeiro smartphone. A regra geral é apenas evitar a exposição durante a infância, que vai até os 12 anos incompletos. No Brasil, essa também é a diretriz do Ministério da Saúde.

A nova pesquisa, no entanto, indica que mesmo esse limite pode não ser suficiente. Os dados sugerem que a simples posse de um aparelho — ainda que sem uso excessivo — já é capaz de afetar aspectos essenciais da vida, como sono, alimentação e vínculos sociais.

Em entrevista ao G1, Ran Barzilay, psiquiatra infantil e adolescente do Hospital Infantil da Filadélfia e autor principal do estudo, reforça que pais precisam enxergar o celular como uma questão de saúde, não apenas social.

Os pais devem encarar a decisão de dar um smartphone ao filho como uma etapa que tem implicações para a saúde das crianças”, afirma.

O que o estudo identificou?

Durante os dois anos de observação, os pesquisadores compararam adolescentes de 12 anos que já tinham smartphone com aqueles que ainda não possuíam o aparelho. 

Entre os que já tinham acesso ao celular, os resultados mostraram: 62% mais chance de dormir menos de 9 horas por noite, quantidade recomendada para essa faixa etária; 40% mais risco de obesidade; 31% mais risco de depressão.

É importante ressaltar que o estudo não considerou jovens com “uso problemático”, caracterizado por longas horas diárias de exposição. Esses casos foram excluídos da análise.

Ou seja, os efeitos apareceram mesmo entre adolescentes cujo uso não era excessivo, sugerindo que o simples contato com o ambiente digital pode reorganizar rotinas e comportamentos fundamentais.

Outro achado relevante: a idade de aquisição importa. A idade mediana do primeiro celular na amostra foi 11 anos. A cada ano em que o aparelho chegava mais cedo, o risco de obesidade aumentava 9% e o risco de sono insuficiente crescia 8%.

Como o celular afeta a saúde?

O acompanhamento por dois anos permitiu observar mudanças reais na saúde dos jovens. Embora o estudo não tenha isolado quais comportamentos específicos ligados ao celular explicam os maiores riscos, alguns caminhos prováveis foram sugeridos.

O uso do smartphone tende a promover: atenção mais fragmentada, checagens constantes de notificações, menos disposição para atividades ao ar livre e maior sedentarismo.

Por Tadeu Nogueira (com G1)