
Quando Seu Zé despontava na esquina da Caixa Econômica (atualmente Varejão Machado), eu já estava sentado no meu canto preferido da "budega" do meu pai, cuidando em afiar o latim senão corria o risco de ficar sem argumentos. Ele vinha em marcha lenta, mãos sempre para trás e com o olhar atento, já buscando encontrar o cabeção do Tadeu para discutir a leitura do mês.
As visitas de Seu Zé Trévia foram rareando e foi aí que notei que o tempo não perdoa, a velhice machuca e as doenças chegam sem piedade. A última vez que falei com ele foi inesquecível. Ele trazia nas mãos trêmulas uma caixa de papelão, nela havia vários exemplares da Seleções, todos das décadas de 40 e 50, raríssimos. Meus olhos brilharam com aquele presente, mas ao mesmo tempo, vi naquele ato a despedida de um homem sofrido, muitas vezes incompreendido, mas profundamente inteligente e amigo. Poucas semanas depois ele partiu desse mundo e por um bom tempo eu acabava me pegando fitando a esquina, como se tivesse esperando pelo meu parceiro de bons papos.
Não há tela nesse mundo que supere o prazer de folhear uma revista ou livro com aquele cheirinho de novo, trazendo até nossa mente tudo que existe nesse mundão de meu Deus. Quem dera nossos jovens lessem mais, escutassem sempre os mais velhos e soubessem valorizar cada momento da vida.
Postado por Tadeu Nogueira