quarta-feira, 6 de maio de 2009

UM LUGAR QUE PRATICAMENTE SUMIU

A rua da igreja de São José, no povoado de Retiro, no município de Chaval, poderia "sem exagero de comparação" servir de cenário para um filme sobre a passagem de uma tsunami. O único rastro que não se encontraria por lá, por pouco e felizmente, seria o da morte de pessoas. No restante, qualquer película de cinema catástrofe teria um quadro pronto para rodar. Protagonista, a força das águas do rio Ubatuba - desmedida por causa das fortes chuvas que entraram pelo mês de maio no Nordeste -, arrastou casas, derrubou árvores grandes, afogou animais, inundou plantações e devastou a vida das 80 famílias que moravam em Retiro.
Expulsos pelas enchentes, crianças, jovens, idosos, mulheres, homens de Retiro e de mais sete povoados estão sem energia elétrica, água potável, comunicação telefônica, transporte, escola e moradia. Após a tragédia do Ubatuba - agravada no último sábado (2) - parte da população de Chaval está refugiada nas sete escolas localizadas na sede do município que faz divisa com Parnaíba (Piauí), no hospital Elizete Cardoso Passos Pacheco, nas igrejas e até em um posto de fiscalização da Secretaria da Fazenda do Estado (Sefaz).
No meio da rua desmanchada pelas águas, Luziane Soares, 34, não contém às lágrimas ao tentar projetar seu futuro e dos sobreviventes de Retiro. "Há gente que perdeu na correnteza até os documentos. Depois daqui, terão de recomeçar provando que existem", ressente. Luziane, que teve a casa inundada e por sorte não destruída, passou se refugiar na escola municipal Raimundo Alves de Sá, onde trabalha, em tempos corriqueiros, como diretora. Lá, ela convive com o próprio drama de ter perdido quase tudo e com a história de outros refugiados. A exemplo de Josefa Mendes da Silva, 23, que recebeu apenas um colchão e dois cobertores da Defesa Civil do Estado para dividir a hora da dormida com o marido e cinco filhos pequenos.
Na escola de ensino fundamental, que está com as duas salas de aula, a cozinha, a secretaria e um pátio tomado por objetos que se conseguiu salvar na hora da enchente, uma das preocupações de Luziane Soares é com o fim da água de beber que ainda resta na cisterna de placa. Sem saber precisar a capacidade do reservatório, a diretora conta que o consumo diário é grande, apesar do racionamento. A água da cisterna também é destinada ao abastecimento de duas casas vizinhas, localizadas na parte alta de Retiro, onde a água ilhou moradores que arriscaram apostar na baixa das águas do rio Ubatuba e não quiseram sair de lá.
Nas residências estão refugiadas mais oito famílias. "Não sei como iremos fazer. A ajuda não é suficiente e a situação é desesperadora". Desolada e sem dormir há vários dias, a prefeita de Chaval, Janaline de Almeida Pacheco, 26, diz que o município precisa de socorro "mais efetivo e urgente".
Reportagem de Demitri Túlio e Cláudio Ribeiro, do O Povo
Lá vou eu: A pior sensação desse mundo é a de abandono, é sentir que ninguém sabe que você existe ou pelo o que está passando. Esse blog não vai deixar que os moradores de Retiro sintam isso. Para entendermos tudo que se passa com as pessoas de lá, basta nos colocarmos no lugar da dona Josefa ou Luiziane por alguns segundos.
Postado por Tadeu Nogueira
Foto: Ju Santos