Com os preços de celulares que filmam, fotografam e acessam a internet, cada vez mais baixos, o número de pessoas que conseguem adquirir esses aparelhos vem aumentando a cada dia. Com isso, com o "brinquedinho" novo, a maioria filma e fotografa até "rastro de cobra". Isso inclui pessoas que são encontradas mortas, seja por suicídio, morte natural ou homicídio, tudo motivado por uma curiosidade mórbida comum a um grupo de seres humanos, que parece cultuar o ato de olhar mortos, sendo que quanto mais trágica for a morte, mais interesse atrai. Outro dia, após um homicídio ter sido noticiado em Camocim, uma verdadeira procissão se formou a caminho da casa da vítima. A cidade, que estava até então em clima monótono, sem movimento, de repente viu carros, motos, motonetas, bicicletas, carroças, e pessoas a pé, crianças, adultos, e idosos, todos com seus celulares com baterias devidamente carregadas, na busca desesperada por um foto ou filmagem do corpo da vítima. A pior parte de tudo isso é a constatação da banalização do crime em si. Quase ninguém quer saber quem foi, ou por que ocorreu o crime, mas sim, onde foi e como foi. Onde foi pra poder ir até lá, e como foi, para avaliar se vale a pena tirar a foto ou não.
Pra piorar, enquanto a perícia não chega, e geralmente a demora é enorme, a família da vítima se vê entre o choro da perda e o assédio de estranhos, que disparam sem cessar seus celulares em busca do melhor ângulo. O curioso é que essas fotos, após serem postadas no facebook, como uma espécie de troféu, e mostradas na vizinhança inteira, para aqueles que não foram ao local, ficam no esquecimento da memória do celular logo que outro caso é registrado. Ou seja, o crime virou espetáculo mórbido, o público chega a ser comparado ao que se acotovela para assistir ao show de uma banda de forró, a morte não assusta mais algumas pessoas, e a curiosidade, que já pode ser considerada doentia nesses casos, acaba se sobrepondo ao bom senso.
Postado por Tadeu Nogueira às 09:00h