
Mas, voltando aos nossos papagaios, araras e
periquitos e outros entes da família, muitos jovens em Camocim no começo do
século ganhavam a vida subindo ao convés dos navios para vender aos marinheiros
estrangeiros nossos pássaros multicores. Isso nos faz lembrar de uma crônica do
livro "Adolescência na Selva", do Camocinense Souza Lima. Ele conta que no começo
do século XX, por volta de 1914 uma professora local possuía um papagaio muito
falador, especialista em dizer palavrões para as visitas que chegavam em sua
casa, fato este que a deixava muito constrangida. Chegando um navio inglês para
carregar de algodão ela não pensou duas vezes: iria vender, ao primeiro
marinheiro que passasse, o papagaio pornográfico. Reproduzo as palavras do
autor:
"No dia seguinte uns marinheiros ingleses
passavam comprando periquitos e papagaios. Dona Tetê que já havia amarrado o
seu fez um aceno para um dos homens louros, já meio embriagado. [...} Ele puxou
uma cédula de dez mil-réis, ofereceu-a pelo papagaio. Ela prontamente aceitou.
Entregou ao marinheiro o seu louro, mas com os olhos marejados de lágrimas. E
passando a mão já murcha pela cabeça do papagaio, como último adeus, disse:
- Vai meu louro... Vai para as estranjas...
E o papagaio, virando a cabeça de um lado para o
outro:
- Estranja é uma porra, Tetê...
Saindo da literatura e passando para a lembrança de um depoente que viveu estes tempos, o Sr. Euclides Negreiros, que em 2007 tinha 90 anos nos relata sobre este comércio de animais, afirmando ser este um dos expedientes que usava para ganhar algum dinheiro, embora os animais vendidos por ele fossem pequenos macacos: "Quando eu era menino subia nos navios para vender laranjas e soins para os marinheiros ingleses [...] eu pegava os macaquinhos, dava de comer e amansava para vender a eles". Não à toa, nossa imagem entre os países vizinhos e os europeus ainda é muita associada com a macacada, ajudada pela ignorância deles sobre nossa Terra Brasilis.
Saindo da literatura e passando para a lembrança de um depoente que viveu estes tempos, o Sr. Euclides Negreiros, que em 2007 tinha 90 anos nos relata sobre este comércio de animais, afirmando ser este um dos expedientes que usava para ganhar algum dinheiro, embora os animais vendidos por ele fossem pequenos macacos: "Quando eu era menino subia nos navios para vender laranjas e soins para os marinheiros ingleses [...] eu pegava os macaquinhos, dava de comer e amansava para vender a eles". Não à toa, nossa imagem entre os países vizinhos e os europeus ainda é muita associada com a macacada, ajudada pela ignorância deles sobre nossa Terra Brasilis.
Carlos Augusto Pereira dos Santos
Historiador
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