segunda-feira, 29 de abril de 2019

DN DESTACA DRAMA DAS CASAS ILHADAS EM GRANJA

O batente recém-construído na porta da sala da casa, no leito do Rio Coreaú, em Granja, revela a tentativa de impedir que a água adentre. 
A estratégia é conhecida. A residência abriga cinco moradores. Já foi de taipa e hoje é de alvenaria. Sempre em área de risco. Quando a cheia ameaça, os habitantes divergem. 
Nos bairros Barrocão e Lagoa Grande, em Granja, o cenário não surpreende. Muito embora nos últimos anos, não se tenham visto o Coreaú tão volumoso. A maior cheia do rio foi em maio de 2009, quando a cidade ficou devastada pela inundação. Uma década depois, a história se repete, em menor proporção. O mesmo recurso hídrico, que percorre oito municípios cearenses e espalha-se por Granja, encontra obstáculos semelhantes: as vidas humanas e suas obras.
No início de abril, pelo menos, 122 famílias do Barrocão e da Lagoa Grande foram atingidas pelas inundações. Sair e entrar em casa virou risco. Ser levado pela correnteza era o grande temor. 
Em Granja, a exposição aos riscos de desastres naturais é histórica. A realidade ganha notabilidade ciclicamente, mas já é constatada há décadas. Pesquisa divulgada, em 2018, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com dados referentes a 2010, o quadro de regiões suscetíveis a desastres naturais como inundações, enxurradas e desabamentos foi diagnosticado.
O estudo chamado "População em áreas de risco no Brasil", elaborado junto com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), apontou que Granja tinha 986 domicílios em área de risco, com 3.764 moradores em condição de perigo. Em 2010, a população estimada na cidade era de 52.645 pessoas. A projeção é que este estudo seja replicado após o Censo 2020.
O poder público tem ciência do assunto, mas garante ser complexo o problema. O coordenador da Defesa Civil do município de Granja, Francisco Aquino, relata que nas cheias de 2009, as áreas de risco foram mapeadas pelo Serviço Geológico do Brasil, vinculado ao Ministério de Minas e Energia. Na época, 220 casas foram entregues na sede de Granja e nos distritos de Timonha e Ubatuba. Mas, boa parte da população, lamenta ele, retornou para as áreas de risco.
Outro dilema, explica ele, é a ausência de dados. Pois, a atual gestão de Granja alega, não tem nenhuma informação sobre quem recebeu os imóveis na grande cheia de 2009.
Para amenizar o drama sazonal, Francisco garante que um dique - obra estrutural para represar água - deve ser construído na margem do Coreaú, na Lagoa Grande, com uma extensão de 1,5km, dando continuidade à estrutura existente.
A cidade, sem recursos, aguarda liberação de emendas parlamentares para efetivar a intervenção. Mas, assim como não há dinheiro, também não há prazo certo para nenhuma ação estrutural. Alheias a isto, as águas seguem levando o que atravessa o caminho. Bens daqueles que também parecem indiferentes à condição natural do Rio.
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Postado por Tadeu Nogueira às 09:06h