Estudos científicos recentes apontam para a origem comum do ser humano. Dessa forma seria perfeitamente legítima a hipótese que os diversos idiomas atualmente falados, evoluídos imensamente desde o episódio bíblico da construção da Torre de Babel, onde Deus confundiu os homens, disseminando novas línguas para que a grandiosa edificação não alcançasse o céu, como queriam os antigos, apresentassem também significativos pontos de afinidades.
Entretanto, por absoluta falta de registros históricos, provavelmente por que foram perdidos ou destruídos, no correr dos milênios, estamos, nesse momento, impossibilitados de realizar descobertas extraordinárias que sejam comparadas ao que a Arqueologia moderna vem obtendo recentemente.
Nesse sentido, a Etimologia (do grego ETHYMON, “VERDADE”) é a fascinante Ciência que se debruça, com vigor e dinamismo incomparável, a buscar, na sua essência mais ancestral, a origem das palavras.
Na Língua Portuguesa, o vocábulo palavra (discurso ou fala) é oriundo do latim clássico parabola, cuja raiz etimológica encontra-se assentada no termo grego parabole (comparação), composto a partir da junção de para (ao lado) e ballein (atirar ou jogar), de onde provêm historicamente as belas parábolas contadas por Jesus Cristo, de cunho moral, que embeveciam e saciavam espiritualmente multidões.
As palavras podem causar alegria, emocionar, suavizar as dores, consolar, acalmar, trazer esperança aos corações aflitos. Com elas, podemos estabelecer pontes de amizade verdadeira, translúcida e pura como a água, tecer quimeras, despertar amores, afugentar o medo, tanger o passado, imaginar o futuro, além de assoprar permanentemente a chama da fé para que sua luminescência jamais se apague.
Quem procura usá-las para semear o bem, transmitir conhecimentos, minimizar desesperanças cotidianas, colhe fartamente sorrisos de gratidão e bonanças sem fim. Entretanto, elas também podem cortar profundamente mais que mil facas, dilacerando não os frágeis tecidos humanos, mas rasgando impiedosamente, de forma desumana, insensível, monstruosa, cruel, a nossa própria alma.
E quando isto acontece nada mais pode reparar o grande mal que foi feito, cujas consequências danosas, por vezes, podem ser absolutamente trágicas.
O poder das palavras é tamanho que basta uma delas, usada no tempo certo, para levantar ou abater definitivamente alguém. Quantos de nós já não nos sentimos aliviados do peso do fardo da existência, em momentos conturbados, com o simples sopro de uma palavra amiga, abotoada com elegância e aprumo, numa conversa amena, que aclara repentinamente o horizonte, delineando um caminho novo e seguro a seguir? Por outro lado, quantos outros, de forma obtusa, irracional, não vêm a ferir e magoar pessoas, inclusive amadas, quando dizem coisas despropositadas que lhes ocorre à mente, trazendo, com isto, tristeza e infelicidade?
Na contemporaneidade, a comunicação tornou-se algo instantâneo, cuja complexa teia configura-se bastante consistente no mundo digital, fluindo difusamente nas chamadas redes sociais, que aproximam ainda mais as pessoas, tornando o mundo uma grande aldeia global.
Assim, um simples falar, ou até mesmo o ato de teclar algumas palavras, pode arrebentar o coração de infinito contentamento, espargindo a magia da felicidade, que avança bravamente como um rio caudaloso, que toma de assalto, impetuoso, suas margens, depositando, nelas, o húmus fertilizador que faz brotar a vida ainda mais pujante, ou quiçá pode contribuir para desfazer esperanças e estraçalhar por completo sonhos tão docemente acalentados, na poeira fugidia dos anos, trazendo escuridão e sofrimento ao nosso eu.
A palavra pode ser doce como o mel ou ácida e amarga como fel. Pode fazer rir e fazer chorar. Pode ser bálsamo divino para curar as feridas espirituais, mas também pode infundir sofrimentos atrozes indizíveis. Ela pode servir para endireitar e iluminar veredas ou tornar o caminho escuro e sombrio.
Seja onde for, no lar, no trabalho, nas rodas de amigos, a palavra deve ser usada com sabedoria, esgrimida com arte, elegância e leveza, servindo para edificar, nunca destruir.
Nesse sentido, sigamos, pois, o exemplo magnífico de São Francisco de Assis, que falava a língua dos homens para exaltar a grandiosidade das maravilhas da Criação, regozijando-se com o ardor do Irmão Sol, e, com a beleza rara da Irmã Lua, fazendo sermão ao Irmão Vento, que o acolhia e levava nas suas asas ligeiras, a lugares distantes, elevando, com sua conduta irrepreensível, a miserabilidade dos seres humanos que anseiam um dia desfrutar do inaudito encontro com o Grande Arquiteto do Universo: Deus!
*Professor e Escritor Camocinense