Por Avelar Santos*
Nessas viagens empolgantes, cruzando a amplidão interestelar, eu me permitia observar, com bastante atenção, além de Mongo, planetas outros distantes anos-luz da Terra, habitados, muitos deles, por estranhas civilizações com tecnologia bem mais avançada do que nós, terráqueos, sendo que algumas delas, quando visitadas pela espaçonave gordiana, que cruzava o universo, não me pareciam ser nada amistosas.
Eis que o Mr. Time passou como um foguete, levando a reboque tantas coisas que se perderam, pobrezinhas, pelos caminhos da existência, inclusive sonhos de criança, que se esfumaçaram, muitos, pelos ares, mas ele jamais levou consigo o meu encanto pela Astronomia e Ciência.
Nos dias atuais, acompanhando de perto os desdobramentos das observações astronômicas, mundo afora, vi que, para surpresa minha, depois de tantos anos de espera, pesquisadores americanos descobriram um misterioso objeto vindo de outro sistema solar, alcunhado, por eles, com carinho, de Oumuamua, que, em havaiano, significa “mensageiro de muito longe que chega primeiro”, avistado pela primeira vez, em 2017, por astrônomos da Universidade do Havaí, do Projeto Pan Stars, cujo objetivo maior é mapear o céu à procura de objetos que possam, porventura, entrar em rota de colisão com a Terra.
Naquela noite longínqua, eles avistaram um objeto estranho, com 800 metros de comprimento, largura dez vezes menor e superfície avermelhada, que girava velozmente, apresentando uma trajetória caótica, além de um brilho incomum que mudava de forma abrupta.
Estas descobertas recentes, publicadas no Journal of Geophysical Research: Planets, levaram os astrofísicos à conclusão de que o Oumuamua, embora bastante similar a um cometa, possuía características distintas, como se tivesse, por exemplo, aceleração e direção próprias, cuja trajetória configurava-se diferente a qualquer corpo celeste deste tipo já observado, antes, no nosso Sistema Solar.
Logo que as discussões científicas tiveram início, foi aceita inicialmente a tese que ele seria oriundo de um planeta semelhante a Plutão devido ao gelo específico identificado na formação do Oumuamua: o nitrogênio sólido, encontrado na superfície do planeta-anão. Assim, chegaram à conclusão plausível de que poderia haver outros Plutões, noutras galáxias, e que um pedaço dele teria entrado em nosso Sistema Solar.
No entanto, para surpresa minha, vi que havia divergências entre os cientistas quanto à origem e a natureza do objeto observado, sendo que um deles, Avi Loeb, Professor da Universidade de Harvard (EUA), acabou se destacando por apresentar uma hipótese pouco convencional: o visitante interestelar se tratava de uma nave alienígena.
Esta afirmação do renomado catedrático causou um grande alvoroço entre os demais pesquisadores, que se debruçavam em analisar aquele objeto interestelar, notadamente quando foi publicado um estudo com a tese surreal de que o Oumuamua seria, na verdade, uma sonda operacional enviada ao espaço por uma civilização de outra galáxia.
Quando foi avistado, em meados de 2017, diversos telescópios observaram sua caminhada, na Via Láctea, por três noites seguidas até que finalmente o perderam de vista. Espantados com aquela descoberta inusitada, os astrônomos logo constataram não tratar-se de um objeto “invasor” normal, desses já conhecidos, porque ele, diferentemente dos seus antecessores, não somente girava a grande velocidade, mas também apresentava uma trajetória desordenada, mudando o seu rumo, abruptamente, além de brilhar de uma forma intensa.
A discussão preliminar, entre os cientistas da Universidade de Harvard, sobre o que era de fato o Oumuamua obteve duas respostas possíveis: um cometa ou um asteróide. "Testamos muitas alternativas plausíveis e a mais factível é que Oumuamua seja um cometa e os gases que emanam de sua superfície estejam causando pequenas variações em sua trajetória", afirmou à época David Farnochhia, do Jet Propulsion Laboratory, um centro tecnológico americano responsável pelo desenvolvimento de sondas espaciais não tripuladas para a Nasa.
Por outro lado, outros disseram que não se tratava de um cometa, porque as observações não haviam detectado a característica da cauda de poeira e gelo usualmente identificada nesses "viajantes espaciais". o,Getty Images
Estudo recente realizado por cientistas do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, nos EUA, diz que o Oumuamua “ provavelmente surgiu por um processo natural ainda desconhecido no espaço interestelar ou em discos protoplanetários", deixando, assim, na comunidade científica, um calhamaço de dúvidas a serem dirimidas, por eles, posteriormente.
Na visão futurista dos astrônomos Shmuel Bialy e Abraham Loeb o "Oumuamua poderia ser uma sonda operacional enviada intencionalmente para as proximidades da Terra por uma civilização alienígena, ou poderia se tratar de um resto de equipamento tecnológico avançado, mais especificamente uma vela solar, um dispositivo que é impulsionado pela radiação solar ou pelo plasma do vento solar.
Bialy e Loeb chegaram a esta conclusão devido a alta velocidade e trajetória incomuns que os telescópios conseguiram captar do Oumuamua durante as três noites em que ele pôde ser observado.
"Este é o primeiro objeto descoberto no sistema solar que se originou fora do sistema solar. Desde a sua descoberta, Oumuamua tem mostrado características não usuais que o tornam um objeto raro, pertencente a uma classe de objetos não vista antes", disse Loeb à BBC.
Por fim, Loeb comparou o Oumuamua com “velas solares criadas por nossa civilização, como a IKAROS, primeira sonda interplanetária impulsionada com uma vela solar, lançada pelo Agência de Exploração Aeroespacial do Japão em 2010 com destino ao planeta Vênus “.
E eu fiquei me perguntando, a partir dali, se o notável cientista de Harvard, Avi Loeb, na sua infância, não teria, também, ouvido falar das aventuras de Flash Gordon, durante a sua jornada épica pelo cosmos, ou lido, quem sabe, as famosas tirinhas de gibi que imortalizaram o criador deste personagem, trazendo-as, para gáudio de todos, até nós.
*Professor e Escritor Camocinense