quarta-feira, 1 de outubro de 2025

DN RELEMBRA MORTE DE MURILO AGUIAR APÓS TUMULTUADA ELEIÇÃO DA ALECE

Escrito por Marcos Moreira (Diário do Nordeste)
Baú da Política (ALECE 190 Anos) 

Em 1º março de 1985, a eleição pela presidência da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) foi marcada por uma disputa acirrada por voto, divisão interna na base governista, tumulto generalizado e agressões físicas e verbais. 

Foi nesse cenário que a vitória de Castelo de Castro ficou em segundo plano diante da morte do outro postulante: o deputado Murilo Aguiar, que enfartou logo após ter o próprio voto anulado e a derrota sacramentada.

Visando o biênio 1985/1986, o pleito pelo cargo mais alto da Mesa Diretora da Alece colocou em lados opostos os deputados Castelo de Castro (PMDB) e Murilo Aguiar (PFL). 

O primeiro tinha como principais aliados o então presidente da Casa, Aquiles Peres Mota, e o senador Virgílio Távora. Já o segundo era representante direto da base do Governo, tendo como apoiadores o governador Gonzaga Mota e o vice Adauto Bezerra.

Até fevereiro de 1985, a vitória do grupo chamado “gonzaguista” era dada como encaminhada. Contudo, a divisão interna entre as alas governistas deixou a disputa aberta e aqueceu as articulações para definir quem conseguiria somar a maioria absoluta de 24 votos entre os 46 possíveis na votação secreta. 

Como noticiou o Diário do Nordeste no mês anterior à eleição pela presidência, o desfecho era incerto e caminhava para um empate.

Foi nesse cenário de acirramento que o governador resolveu substituir o então candidato Antônio Câmara por Murilo, um dia antes da eleição. 

O motivo da troca: a idade. Em caso de empate de votos, o Regimento Interno da Alece previa que o mais velho seria eleito, o que daria vantagem a Aguiar, de 71 anos, contra Castelo Castro, 62.

Segundo fontes revelaram ao Diário do Nordeste à época, o próprio Murilo Aguiar manifestou resistência à indicação de Gonzaga Mota. 

"Governador, eu não tenho mais idade para isso. Veja onde o senhor está me colocando. Eu não tenho mais idade para o cargo. Isso vai ser um sacrifício para mim, porque eu sei que vou pegar um abacaxi”, teria dito o parlamentar, às vésperas da disputa que ficaria marcada pelo falecimento dele.

A eleição para a presidência da Assembleia Legislativa iniciou ainda na tarde de 28 de fevereiro de 1985, mas o tumulto generalizado e a consequente suspensão da sessão, em diversas ocasiões, fizeram com que os trabalhos entrassem pela madrugada, já em 1º de março.

O cenário acirrado na disputa por votos fez com que a maioria absoluta não fosse alcançada no primeiro escrutínio, exigindo novas rodadas. Após a contabilização da terceira votação, Aquiles Peres Mota anunciou o resultado: 23 votos para Castelo de Castro, contra 22 para Murilo Aguiar.

A partir de então, a sessão ficou ainda mais tumultuada, com os membros do PFL protestando contra a Mesa Diretora e exigindo recontagem dos votos. Houve empurrões e agressões físicas e verbais, o que envolveu até o presidente Aquiles Peres Mota.

Os deputados da Frente Liberal alegavam que o então presidente da Casa teria anulado o voto de Aguiar, por conta de uma rasura na cédula, evitando o empate que determinaria a derrota de Castelo de Castro por idade. 

Em meio à confusão, o filho do candidato derrotado, Murilo Aguiar Filho, teria arrancado os votos das mãos de Aquiles, “rasgando alguns e jogando os outros para o alto”, relatou o Diário do Nordeste.

A pressão não fez com que Aquiles Peres Mota voltasse atrás. "O novo presidente da Assembleia é o deputado Castelo de Castro. Proclamo-o agora eleito presidente da Assembleia. E quem quiser que recorra", manifestou em meio à confusão. Em seguida, ele suspendeu a sessão e precisou ser escoltado para conseguir sair do Plenário 13 de Maio.

Até então, havia apenas a definição de Castelo de Castro como presidente e Fonseca Coelho como primeiro vice-presidente. Então, ficou decidido que a sessão precisaria ser reaberta para a eleição dos outros oito cargos da Mesa Diretora — cinco titulares e três suplentes —, o que só foi ocorrer cerca de duas semanas após a morte de Murilo Aguiar.

Murilo Aguiar não resistiu ao infarto e, após ser socorrido, já teria chegado sem vida ao hospital. O óbito interrompeu os trabalhos legislativos e inseriu o Parlamento em um crise política e institucional. As sessões só retornaram, de fato, em 13 de março — quando foram eleitos os outros membros da Mesa Diretora.

Único mesário do pleito que era aliado de Murilo Aguiar, o ex-deputado estadual Osmar Diógenes narra que o infarto ocorreu em meio ao tumulto na apuração da votação. Em entrevista ao PontoPoder, em junho de 2024, o parlamentar relembrou o episódio e evidenciou o descontentamento com a condução da apuração.

Terminava ali a trajetória de Murilo Aguiar. O sepultamento ocorreu no final da tarde do dia 1º de março, com a presença de apoiadores, familiares, políticos e representantes de diversos poderes, como o então vice-presidente da República, Aureliano Chaves.

Castelo de Castro tomou posse no mesmo dia, em solenidade simples e sem a transferência do cargo, apenas na presença de aliados do PMDB e do PDS. Coube ao novo presidente, inclusive, decretar os três de dias de luto oficial pela morte de Murilo Aguiar.

Os dias após o caso foram de intensas negociações, ameaças de judicialização da eleição e dificuldades para encontrar um acordo entre os campos. No entanto, Castelo de Castro conseguiu concluir o biênio à frente da Alece, após a costura de um acordo que envolveu a escolha de uma chapa de consenso entre os grupos de Gonzaga Mota, Adauto Bezerra e o PMDB.

O óbito também alterou a composição da Alece, como mostrou o Diário do Nordeste à época. “A morte de Murilo Aguiar efetiva o suplente de deputado estadual Ciro Ferreira Gomes e ensejará a convocação do suplente Mota Brito que foi desconvocado, recentemente, em razão da exoneração do deputado Ubiratan Aguiar como secretário de Educação do Estado”.

LEGADO REPRESENTADO

Murilo Rocha Aguiar iniciou a carreira política em 1947, quando foi eleito para o primeiro mandato de deputado estadual, cargo que ocupou sucessivamente por cinco mandatos. 

O parlamentar foi, ainda, um dos deputados perseguidos pelo AI-5, na Ditadura Militar, voltando a ocupar um assento na Assembleia em 1982, após a anistia. Ele também foi prefeito de Camocim, sua cidade natal, entre 1955 e 1959.

O episódio do falecimento virou um marco na história da Alece, onde a memória de Murilo Aguiar foi homenageada dando nome ao maior auditório da Casa. Além disso, o parlamentar deixou um legado político. Atualmente, o neto dele, Sérgio Aguiar (PSB), está no exercício do quinto mandato de deputado estadual.

Em contato com o PontoPoder, Sérgio Aguiar comentou que o avô foi comerciante e ficou conhecido em Camocim como “pai da pobreza”, por conta das iniciativas voltadas para a população mais vulnerável, como a criação do Hospital Maternidade do município. Além disso, ressaltou o papel de Murilo como “fonte inspiradora” para a trajetória política da família.

Acerca do episódio da morte na Assembleia, Sérgio salienta que a compreensão da família é de que Murilo foi “garfado realmente” por meio de cédulas eleitorais viciadas. Para ele, o avô foi tomado pela raiva e “decepção tão grande” não pela derrota em si, mas pelos procedimentos adotados na apuração.

Ainda hoje, reforça Sérgio, o momento é tido como um trauma para os parentes de Aguiar. “Foi muito difícil para nossa família perdemos a nossa grande liderança política, principalmente numa situação como essa, em que ele tinha tudo para se tornar o presidente do Poder Legislativo e encontramos ele dentro de um caixão. Então, foi muito traumático para toda a família”, enfatizou. 

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Por Tadeu Nogueira (com DN)